Transtorno é associado a um risco maior de morte precoce do que o cigarro, diz estudo
Transtorno bipolar é marcado por dois polos contrários de estado de humor – Foto: Rafael Furtado/Folha de Pernambuco

Por Folha de Pernambuco

Pessoas com transtorno de bipolaridade têm até seis vezes mais chances de morrer prematuramente do que aqueles que não tem a condição, de acordo com um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Michigan. Os resultados mostram que o transtorno aumentou o risco de morte de uma pessoa muito mais do que um histórico de tabagismo.

A equipe de estudos analisou dados de um grande estudo denominado “Estudo Longitudinal Prechter de Transtorno Bipolar”, bem como dados de registros anônimos de pacientes coletados em clínicas de saúde da Universidade de Michigan.

O conjunto de dados Prechter incluiu dados observacionais de 1.128 participantes, sendo 847 com bipolaridade e 281 sem bipolaridade. Já os dados das clínicas incluíram 18.561 pacientes, sendo 10.735 com bipolaridade e 7.826 sem bipolaridade.

Um diagnóstico de transtorno bipolar significava que alguém tinha seis vezes mais probabilidade de morrer durante um período de 10 anos do que uma pessoa sem o transtorno. Em comparação, nessa mesma coorte, o risco de mortalidade de uma pessoa era 2,3 vezes maior se ela tivesse mais de 60 anos de idade. E o risco de mortalidade para pessoas com histórico de tabagismo foi 2,5 vezes maior do que para quem nunca fumou.

“Em ambas as amostras descobrimos que ter transtorno bipolar representa um risco muito maior de morte prematura do que fumar. Ao longo dos anos, todos os tipos de programas foram implementados para prevenção do tabagismo e conscientização sobre doenças cardiovasculares, mas nunca uma campanha nessa escala para a saúde mental”, afirmou o psiquiatra da Universidade de Michigan, Melvin McInnis, que dirige o programa Prechter e é coautor do estudo.

Bipolaridade

O transtorno bipolar é uma doença crônica e sem cura caracterizada por uma forte variação de humor, que oscila entre episódios depressivos e eufóricos, separados por períodos de estabilidade. Os sintomas da doença começam a se manifestar, em média, entre jovens de 16 a 25 anos, mas também entre crianças e pessoas mais velhas e, no Brasil, acomete de 1% a 2,5% da população.

Há dois tipos de bipolaridade. No tipo 1, que acomete cerca de 1% da população mundial, há a evidência da euforia e é caracterizado por excesso de confiança, mania de grandiosidade, irritabilidade e humor superelevado, além de alucinações e delírios.

Já o tipo 2, que representa de 0,5% a 2% da população, há uma depressão mais aguda e ao menos um episódio brando de euforia. Nos dois quadros, as crises podem ser graves, moderadas ou agudas, e afetam sensações, ideias, emoções e o comportamento bipolar e acarretam riscos que pode afetar a sua longevidade.

No tipo 1, por exemplo, os sentimentos de euforia, impulsividade, distração e agitação podem levar as pessoas a tomarem decisões arriscadas e, às vezes, perigosas. No segundo polo, a saúde e a higiene podem ficar no esquecimento e há maior risco de tentar contra a própria vida.

-“O transtorno bipolar nunca será listado na certidão de óbito como a principal causa de morte, mas pode ser um contribuinte imediato ou secundário para a morte”, diz a biomédica e pesquisadora principal do estudo, Anastasia Yocum.

Na coorte de Prechter, as pessoas com bipolaridade tinham uma probabilidade significativamente maior do que aquelas sem diagnóstico de ter outras condições de saúde simultâneas, incluindo asma, diabetes, problemas de tireóide, pressão arterial elevada, enxaqueca e fibromialgia.

“Precisamos saber mais sobre por que as pessoas com bipolaridade têm mais doenças e comportamentos de saúde que comprometem as suas vidas e longevidade e fazer mais como sociedade para ajudá-las a viver de forma mais saudável e a ter acesso consistente aos cuidados”, diz McInnis.

Tratamento
O tratamento é feito com medicamentos de uso contínuo, como estabilizadores de humor, anticonvulsivantes e antipsicóticos para tratamento dos episódios de euforia, de depressão e também para prevenir recaídas. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de antidepressivos.