Publicado às 04h43 deste domingo (12)

A foto em destaque no quadro “Viagem ao Passado” é o belo registro da fachada do Clube Intermunicipal de Serra Talhada, o histórico CIST.  O clube foi criado no início dos anos 1950, com o objetivo de promover o lazer e o entretenimento de setores com maior poder aquisitivo da cidade, ao mesmo tempo, um outro clube, o Líder, era o ponto de encontro do restante da população local.

Pelo salão do CIST passaram grandes lideranças políticas e empresariais, e o seu palco serviu de vitrine para grupos musicais locais e de dezenas de atrações de fama nacional. O tempo foi ingrato com o CIST, pois as gerações de sócios que herdaram dos seus pais um pedaço precioso do local, não foram capazes de manter viva a chama acesa que mantinha o coração do clube pulsando.

O resultado é que o CIST foi lentamente entrando em coma. E por uma triste ironia do destino, nós, que ostentamos os títulos de 4º polo médico do estado, segunda maior cidade do Sertão, polo empresarial, político, cultural e educacional, não somos capazes de tirar o CIST da UTI.

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Pelo contrário, preferimos matá-lo aos poucos, a exemplo do que fez a secretaria de Obras durante essa semana, onde ao invés de preservar a fachada original do clube, preferiu o caminho mais fácil e prático. Derrubar a parte superior da fachada do prédio. Então, se a visão da administração local estiver correta, o melhor seria ter derrubado logo tudo. Talvez assim o choro seria todo extravasado de uma única vez e o problema seria resolvido.

Como serra-talhadense, confesso aos amigos e amigas que guardo no coração uma certa tristeza em ver e testemunhar a forma como a memória arquitetônica, bem como a documental, são tratadas em minha cidade.

Infelizmente não tive a oportunidade de contemplar beleza da arquitetura do prédio do Açougue Público, da antiga Prefeitura Municipal, do antigo Coreto (o primeiro). Todos por alguma razão foram demolidos pelo poder público municipal, em tempos passados. A iniciativa privada também não fica atrás e também deixa a sua marca. O Cine Art, a antiga AABB, o palco do Batukão, e tantos outros locais que fizeram parte do cotidiano e da vida dos serra-talhadenses já não existem mais ou tiveram suas fachadas totalmente modificadas.

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QUESTIONAMENTOS

Às vezes me pego a pensar sobre o que iremos preservar de memória da cidade para as futuras gerações? Talvez um punhado de fotos, ou quem sabe uma meia dúzia de histórias contadas por pessoas teimosas assim como eu, e que isso seja apenas um pequeno consolo. De alguma forma estamos sendo arrastados pelos moinhos de ventos, e que pena que nós não tenhamos um Dom Quixote. Mas aqui entre a gente! Nem a ajuda de Sancho Pança faria com que o nosso Dom Quixote derrotasse a força das marretas e vitalidade descomunal das retroescavadeiras que atropelam a nossa memória.

O que nós falta é respeito pela história da cidade. É respeito por aquilo que a nossa gente construiu a longo do tempo. E o pior, é abandonar os lugares aonde um dia nos fomos felizes. Em uma terra árida e de clima quente, onde a violência do passado parece nos acompanhar como um carma eterno. Ser feliz no CIST em uma noite de sábado, ou no Pereirão, em uma tarde de domingo, parecer ser algo improvável e impensável para o nosso tempo! Mas há tempos atrás isso era o que fazia uma cidade inteira sorri.

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Felizes são os habitantes da cidade de Roma, que há décadas lutam para manter em pé uma torre torta. Ou os Peruanos que preservam uma cidade de pedras em cima de uma montanha. É bem verdade, que todos esses locais têm um valor histórico incalculável, mas que só existem porque o seu povo soube preservar. Esses povos compreendem a importância da história dos seus antepassados e do legado que eles deixaram. Nós, serra-talhadenses, infelizmente, ainda não compreendemos a importância da nossa história e o valor imensurável do legados deixado pelos nossos antepassados!