Foto: Solen Feyissa/Unsplash

Por Canaltech

O mundo real fica mais próximo da ficção científica com a possibilidade de úteros artificiais serem usados, pela primeira vez, em testes envolvendo o desenvolvimento de seres humanos nos Estados Unidos. Só que, aqui, precisamos ir com calma.

Por enquanto, o que se discute é o “apenas” o uso de uma máquina para bebês prematuros — a tecnologia não permite simular o útero de mãe, cumprindo apenas algumas funções vitais, como o fornecimento de oxigênio e a remoção de dióxido de carbono, criando um novo mecanismo apoiado no cordão umbilical.

No momento, o uso destes úteros artificiais são alvo de discussão intensa entre os pesquisadores e membros da agência federal Food and Drug Administration (FDA). Por lá, o que se discute é a autorização dos primeiros testes com humanos de um dispositivo conhecido como Ambiente Extrauterino para o Desenvolvimento do Recém-Nascido (Extend). O invento foi criado por cientistas do Hospital Infantil da Filadélfia e já foi testado em modelos animais, como cordeiros.

O que são bebês prematuros?

Antes de seguir, vale pontuar que, conforme define a Organização Mundial de Saúde (OMS), nascimentos de bebês prematuros são aqueles que ocorrem antes das 37 semanas de gestação. A causa pode ser inúmeros, desde uma infecção a um desequilíbrio hormonal, até casos de hipertensão (pressão alta).

Independente da origem do problema, o fato é que o nascimento prematuro é a principal causa de morte e incapacidade em crianças com menos de cinco anos no mundo. Considerando as estimativas de 2019, cerca de 900 mil mortes de bebês foram provocadas por esta condição.

De forma geral, quanto mais precoce é o nascimento, maior é o risco de óbito. Se isso acontece antes das 22 semanas, a probabilidade de sobrevivência é baixa com as atuais tecnologias disponíveis nos hospitais. A partir das 28, a mortalidade é reduzida, mesmo que ainda seja arriscado. Numa gravidez normal, o parto ocorre entre as semanas 37 e 40.

Dentro desse contexto, a solicitação da primeira fase de testes clínicos envolve a licença para experimentos com bebês nascidos com 22 até as 28 semanas da gestação, onde o risco de óbito é maior.

Entenda o útero artificial

No útero da mãe, o feto recebe oxigênio, nutrientes, anticorpos e inúmeras substâncias que auxiliam no desenvolvimento. Entre essas funções, o aparelho Extend supriria especialmente o fornecimento de oxigênio e captura do dióxido de carbono, de uma forma potencialmente mais eficaz que os atuais ventiladores mecânicos usados em bebês prematuros.

Para os cientistas, os ventiladores são muito “bruscos” para pulmões que ainda não estão prontos para respirar e que ainda contêm o líquido amniótico. Então, o útero artificial “faria a ponte entre um bebé nascido extremamente prematuro durante os dias e semanas em que corre maior risco de sofrer danos pulmonares e cerebrais”, afirma Kelly Werner, neonatologista do Centro Médico da Universidade Columbia, para a revista Nature. A especialista não tem nenhuma relação com os testes e nem com o pedido em análise pela FDA.

Testes com cordeiros

Na fase de pesquisa pré-clínica, em 2017, viralizaram vídeos do testes com úteros artificiais desenvolvidos pelos pesquisadores da Filadélfia. Nas imagens, é possível ver um cordeiro com o cordão umbilical conectado ao equipamento de oxigenação do sangue e mergulhado no líquido amniótico sintético. Apesar da aflição causada pelo plástico, a sensação que dá é que o animal está sonhando.