Do Jornal do Brasil

Potencial candidato à Presidência da República em 2018, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), assumidamente conservador, busca novas parcelas do eleitorado, que cresce nas pesquisas de intenção de voto. Especialistas apontam como causa dessa ascensão – ele aparece em segundo lugar nos levantamentos, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – o vácuo político e o fortalecimento da pauta sobre segurança pública, um dos temas principais abordados pelo candidato.

“Essa ascensão vem do desgaste de lideranças políticas tradicionais. O PT passou por um processo de desgaste grande, assim como o PSDB e o atual governo [PMDB]. Essa situação acaba resultado na busca de uma alternativa”, analisou o cientista político Cristiano Noronha.

“Bolsonaro cria a ilusão de que está havendo uma renovação na política, porque ele está associado a um campo tido como não-político, que é a força militar. E assim ele reproduz a fantasia de que a gente precisa de alguém que resolva as coisas, um super-herói que está ligado à força do exército”, acrescentou a cientista política Clarisse Gurgel da Unirio, completando: “Mas ele é o que representa de mais velho na história do Brasil”.

Conhecido por declarações polêmicas, Bolsonaro, que já se banhou no Rio Jordão, em Israel, critica discussões sobre questões de gênero, sexualidade e direitos humanos e reverbera na internet, principalmente em sua página oficial com mais de 4,4 milhões de seguidores. Ele já deixou claro que “preferiria ter um filho morto do que um homossexual” e que a comunidade LGBT está tentando assumir a sociedade. Além disso, o deputado é alvo de uma ação civil do Ministério Público Federal no Rio, por danos morais coletivos às comunidades quilombolas e à população negra; e no Supremo Tribunal Federal, por incitação ao crime de estupro. Sua primeira base eleitoral, os militares evocam um tempo na história do Brasil que, para Clarisse, ainda tem uma memória distorcida para grande parte da população.

“Não queremos ditadura não. Nós queremos é liberdade, como tinha no período militar. De 1964 a 1985 você tinha liberdade, segurança e respeito”, defendeu o deputado em agenda de campanha presidencial no interior da Paraíba em fevereiro desse ano.

“Bolsonaro é a expressão de um país sem memória, e isso impede o povo de enxergar o presente. A ditadura militar é vista por muitos como se fosse uma grande solução, porque ela resolve sem diálogo, na base da força. Aliás, ela não resolve. As pessoas só acreditam que resolve”, afirmou Clarisse, finalizando: “Junto com o autoritarismo que esses sujeitos carregam, vêm também derrotas no campo moral e econômico-social”.