Do Diario de PE

Sob forte desconfiança de analistas, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, lançou um plano econômico para tentar conter a derrocada econômica, que tem levado centenas de milhares de venezuelanos a emigrar para países vizinhos. Entre eles, Colômbia, Equador e Brasil.

O “Madurazo” cortou cinco zeros da moeda nacional, o bolívar, que passou a se chamar bolívar soberano. Para analistas, o plano tende a fracassar. Eles dizem que a mudança monetária, que entrou em vigor ontem, não deve controlar a hiperinflação que, de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), pode alcançar 1.000.000% em 2018 — a maior taxa do mundo.

Especialistas afirmam que, para segurar a desvalorização acelerada da moeda, é preciso, primeiro, equilibrar oferta e demanda na economia e reorganizar as contas públicas, que apresentam deficit equivalente a 20% do Produto Interno Bruto (PIB). Maduro anunciou que, para se manter estável, o bolívar soberano será vinculado ao Petro, uma criptomoeda criada pelo governo com base no preço do barril do petróleo venezuelano. Na prática, um Petro começa valendo 3,6 mil bolívares soberanos, o que equivale a US$ 60. Na prática, a moeda do país foi desvalorizada em 96% em relação ao dólar.

As medidas incluem um aumento de 35 vezes do salário mínimo (3.464%), que sai de 5,2 milhões para 180 milhões de bolívares, na antiga moeda, ou 1.800 bolívares soberanos. O valor corresponde a cerca de US$ 28, ou R$ 112, o suficiente para comprar um quilo de carne no país. Maduro anunciou ainda que o Estado assumirá, por 90 dias, a diferença do reajuste do salário mínimo para todas as pequenas e médias indústrias do país, o que pode comprometer mais a situação fiscal.

Por ter sido criada pelo governo, o Petro sofre de falta de credibilidade. “A cotação das criptomoedas têm altíssima volatilidade. Tão rápido como sobe, cai”, explicou Marcos Simplício, professor da Universidade de São Paulo (USP). “Mesmo as mais conhecidas, como o Bitcoin, não têm a parte econômica bem definida, e isso pode gerar um problema grave no país”, completou.

Do ponto de vista econômico, as medidas têm mais chances de serem desastrosas do que benéficas, de acordo com Lívio Ribeiro, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A exploração do petróleo está em queda na Venezuela diante da falta de recursos para investimentos, em consequência do deficit fiscal. A nação vizinha é altamente dependente da produção da commodity, cujo preço caiu 50% nos últimos 10 anos, segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Maduro também anunciou o fim de subsídios que mantêm baixo o preço da gasolina, o que deve aumentar o preço do combustível. A medida pode melhorar as condições do caixa do governo, mas ficou restrita aos que não têm o “carnê da pátria”, uma documentação de identidade dada aos apoiadores do presidente, ou seja, serviu para retaliar os opositores, que não se submetem ao registro. O governo também anunciou um aumento, de 12% para 16%, de impostos sobre transações financeiras e bens de luxo.

“A Venezuela, há muitos anos, está num descontrole econômico, e o quadro vai de mal a pior. As pessoas morrem por não terem acesso a remédios e alimentação. Há um brutal descasamento entre oferta e demanda, e a estatização de empresas gerou falta de controle”, afirmou Ribeiro. Segundo o especialista, cortar zeros da moeda “não serve para nada”, e a proposta de diminuição de subsídios beneficia grupos específicos e cria um mercado paralelo. “A Venezuela está andando na direção da calamidade econômica e social. As pessoas abandonam as casas com a roupa do corpo para fugir do país. É uma situação semelhante a dos refugiados na Europa”, comparou.