Do G1 PE

A vereadora do Recife Liana Cirne (PT), agredida com spray de pimenta por policiais militares, durante um protesto contra o presidente Bolsonaro (sem partido), prestou depoimento nesta terça (8), sobre a violência durante a repressão aos manifestantes. Ela contestou as informações do governo sobre o que provocou a ação truculenta no dia 29 de maio

Na segunda (7), a SDS fez uma coletiva de imprensa para divulgar informações sobre a atuação dos policiais militares. De acordo com um documento oficial da PM, a ordem para dispersar os manifestantes partiu do Comando Geral da corporação.

Liana Cirne chegou às 9h30 à delegacia da Avenida Alfredo Lisboa, no Bairro do Recife. Pouco depois das 11h, faltou energia na unidade policial. O depoimento durou cerca de uma hora e meia.

A vereadora afirmou que, na linha do tempo da operação policial divulgada pela SDS, há a informação de que um homem que estaria atirando pedras contra os policiais foi detido na mesma hora em que ela foi agredida. No entanto, segundo a parlamentar, a informação está errada.

“Nos chamou a atenção de que, na linha do tempo divulgada pela SDS, tenha sido afirmado que essas duas viaturas da Radiopatrulha tenham detido um homem que teria jogado pedras. Mas, de acordo com o próprio boletim de ocorrência e declarações dos próprios policiais, isso só ocorreu às 13h25, ou seja, uma hora e 28 minutos depois das agressões contra mim, na Ponte Santa Isabel”, declarou.

 

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A parlamentar disse que os policiais que agiram no protesto registraram um boletim de ocorrência contra o homem detido e citaram a vereadora.

Por isso, ela teve acesso ao depoimento deles. Ela afirmou, ainda, que imagens de câmeras de segurança da SDS atestam as divergências.

“A ordem [para atacar os manifestantes] teria sido cessada às 12h36, enquanto que as filmagens mostram que as viaturas 112 e 113, às 12h53, estavam na frente da Faculdade de Direito do Recife, os policiais, os mesmos que me agrediram, desceram das viaturas e começaram a disparar tiros de balas de borracha e bombas em manifestantes que já haviam dispersado e que não representavam nenhum risco. Essas mesmas viaturas, também, às 12h02, negaram socorro a Daniel”, afirmou.

Liana Cirne prestou depoimento à Polícia Civil após ser convocada pela delegada Kelly Luna. À tarde, foi marcada a ouvida dos quatro policiais que a agrediram.

“Eu tive que prestar esclarecimentos. Eles fizeram um boletim de ocorrência contra esse trabalhador. Ele é um entregador que estava passando pelo ato, estava de bicicleta, não tinha nada a ver e nem sabia da manifestação. Dispararam contra ele e ele, então, jogou uma pedra na viatura. Isso, de acordo com os policiais, às 13h25”, afirmou a vereadora.

No entanto, ao ver os manifestantes pedindo socorro, desceu do carro e se identificou como vereadora. Foi nesse momento que foi agredida com spray de pimenta por policiais em duas viaturas.

“Infelizmente, eu ter me apresentado como vereadora, ter solicitado que eles cumprissem o procedimento legal, que não havia nenhum fundamento para eles atirarem contra os manifestantes que estavam fugindo e pedindo socorro, não resultou em nada. Resultou nesses policiais irascíveis me agredindo com spray de pimenta e, no mesmo local, meia hora depois, Jonas ter perdido a visão. O que mostra o total descontrole. Ou houve uma ordem para uma violência muito brutal, ou houve um descontrole muito absurdo”, disse Liana Cirne.

Repressão violenta

Durante a manifestação, o cantor Afroito foi preso durante o ato e disse que temeu ser sufocado. Um advogado foi atingido por quatro balas de borracha disparadas pelos policiais.

Dois homens que não participavam do protesto pacífico perderam a visão em um dos olhos devido à ação truculenta da PM.

O adesivador de táxis Daniel Campelo, de 51 anos, perdeu o olho esquerdo após ser atingido por uma bala de borracha. Policiais negaram o pedido de socorro feito por ele. O outro ferido foi o arrumador de contêineres Jonas Correia, de 29 anos

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Eles vão receber, a partir desta terça (8), um auxílio do governo no valor de dois salários mínimos, por três meses. Parentes de Daniel e Jonas disseram que ganharam cestas básicas do governo. Valores de indenização e da pensão até os 75 anos ainda não foram definidos.

Investigação e afastamentos

Desde o dia do ataque aos manifestantes, o governo trocou o comando-geral da PM e o secretário de Defesa Social. Também afastou das ruas 16 PMs envolvidos na operação, sendo três oficiais e 13 praças.

A Secretaria Defesa Social (SDS) afirmou que não pode revelar os nomes dos afastados, por causa de uma lei de 2020 que proíbe a divulgação de envolvidos em processos.

Ainda segundo a secretaria, as armas usadas pelos policiais não foram periciadas porque têm cano com a parte interna lisa, o que impossibilita a realização de perícia técnica. O governo do estado não explicou quem autorizou os disparos e alegou que isso é alvo das investigações.

A Corregedoria da SDS investiga a omissão de socorro a Daniel Campelo. Além disso, o Ministério Público de Pernambuco abriu um inquérito civil sobre a ação truculenta da PM. O policial responsável pelo tiro que atingiu Jonas Correia foi afastado disciplinarmente pela Corregedoria.