Do Metrópoles

 

Durante a abertura do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que deve conduzir o presidente Xi Jinping, 69 anos, a um terceiro mandato, o chefe de Estado deixou clara a intenção de obter o controle de Taiwan —ilha autogovernada que a China defende fazer parte de seu território. Para isso, admitiu a possibilidade do uso da força, embora ainda espere uma solução pacífica.

“A resolução de Taiwan é uma questão para os próprios chineses decidirem. Insistimos em lutar pela perspectiva de uma reunificação pacífica com a maior sinceridade e com o maior esforço”, disse. A ideia seria expandir o controle conforme em Hong Kong. Segundo Xi, mudando a situação “do caos para a governança”.

Para o presidente, a segurança nacional e dominar Taiwan serão as prioridades do seu eventual terceiro mandato. Em 2017, a promessa era de uma nova era para o socialismo com características chinesas e mais participação de Pequim com o mundo.

Previsto para ser concluída no próximo sábado (22/10), a reunião quinquenal, com mais de 2 mil representantes do povo, deve tornar Xi o líder mais longevo e poderoso da China desde Mao Tsé-Tung.

Após morte de Tsé-Tung, em 1976, os presidentes podiam exercer apenas dois mandatos. Porém, em 2018, congressistas aprovaram uma alteração na constituição que derrubou o limite para permitir um terceiro mandato ao atual chefe de Estado.

O congresso, que ocorre de portas fechadas, reúne cerca de 2,3 mil delegados do PCC, que viajarão a Pequim para o evento. Os participantes definirão quem serão os membros do Comitê Central do partido. Estes designarão os 25 integrantes do Escritório Político e os representantes do Comitê Permanente, o principal órgão de decisão da China.

Protestos

Às vésperas do congresso, Pequim viveu uma onda de protestos contra Xi Jinping. As manifestações também são contra a política de “Covid Zero”, que mantém duras regras de lockdowns em cidades inteiras e impede a volta da normalidade da vida dos cidadãos.

A permanência de Xi no poder vem a contragosto de parte de população, insatisfeita com as imposições do partido diante do coronavírus. Agências internacionais de notícias e perfis nas redes sociais começaram a circular fotos e vídeos de protestos. Uma dessas imagens foi capturada na Ponte Sitong, no distrito de Haidian, no Noroeste da capital, com a frase:

“Façam greve na escola, no trabalho, removam o ditador e traidor nacional Xi Jinping”.

Há outras imagens que criticam a dura política de testagens para a Covid-19. “Sem testes PCR, nós queremos comer. Sem restrições, nós queremos liberdade. Sem mentiras, nós queremos dignidade. Sem Revolução Cultural, nós queremos reforma”, dizia.

Outra faixa fazia menção à democracia: “Sem líderes, nós queremos votar. Ao não sermos escravos, poderemos ser cidadãos”. Repórteres da BBC e da agência Bloomberg foram ao local, não viram vestígios do ato, mas testemunharam uma forte presença militar.

Fang Zhouzi, escritor de ciência chinês e crítico ao regime, divulgou parte dos protestos em seu Twitter:

Diferente de Hong Kong, uma região autônoma da China, no território chinês protestos são raros, devido à forte vigilância do partido. Além das câmeras, agora o PCC conta a política restritiva contra a Covid, o que apequena ainda mais as liberdades individuais de seus habitantes.