conego

Por Adelmo dos Santos, escritor e poeta de Serra Talhada

Foi na década de 1960 bem pertinho da “Cisagro”, era ali que existia o Açude do Ginásio. Era um açude grande pegava dois quarteirões, a represa ficava onde hoje é a Rua Tiburtino Nogueira e a parede do açude ficava na Rua 15 de Novembro, onde hoje é a Câmara de Vereadores. Quem morava no centro da cidade para chegar ao Cônego Torres (Foto) passava em cima da parede do Açude do Ginásio. Nesse tempo o Cônego Torres era chamado de Ginásio. Quando era época de inverno os alunos chegavam ao colégio com os sapatos todos melados de barro.

A paisagem era um encanto, era lindo o cenário. Mostrando a biodiversidade do Açude do Ginásio com muitos pés de favelas, xique-xique e aroeiras, mandacaru e angico, imburana e pau-pereira. Os meninos caçavam passarinhos e calangos com petecas e baleeiras. No espelho d’água tudo se refletia com as plantas e as flores e os alunos passando na parede do açude para estudar no Cônego Torres. Da parede do açude até chegar à represa tinha um jardim se formando por conta da natureza. Num pé de mandacaru ali mesmo entre os espinhos, um beija-flor comia a fruta enquanto fazia o ninho, era o Açude do Ginásio recebendo os passarinhos.

De um lado  os grilos cantavam, do outro lado as cigarras, para não ficar com inveja os sapos também cantavam, no açude parecia que havia uma fanfarra. Era um açude forte tinha muita energia, com as lavadeiras de cócoras com as roupas nas bacias, os jumentos abastecidos com os donos pegando água para encher as ancoretas que traziam nas cangalhas. No açude eu vi os gansos voando em forma de “V”, dando um show da natureza para todo mundo ver. Os cágados nadavam mergulhavam e subiam, o Açude do Ginásio era cheio de alegria. À noite o cenário se transformava em deslumbre com os matos e as águas sendo iluminados pelos piscas-piscas dos vaga-lumes.

Tinha um bicho interessante que parecia um avião, ele dava uns voos rasantes, batia com o rabo na água indo para o norte e para o sul, quando ele aparecia era muita alegria com os meninos gritando: “Olha o Chico Lava cu!” e eu era um dos meninos. Tomei banhos o quanto pude, com as mulheres lavando roupas nas beiradas do açude. Nem a tal da ditadura me deixava assustado, não tinha televisão as notícias vinham do rádio. Na capital de Recife a polícia batia nos estudantes que enfrentavam os soldados, enquanto  o governador Miguel Arraes estava sendo deportado.

Era o fim da empresa “Colier” começava a “Cisagro”, eu ainda era criança. Tanto tempo já passou, quase tudo foi mudado, mas eu tenho na memória tudo isso arquivado. O progresso foi chegando os prédios foram surgindo e as águas do açude as construções foram engolindo. O progresso apareceu empurrado por tratores, fez a Agência do Trabalho, a Câmara de Vereadores e ficou tudo diferente do que era no passado. Onde era o açude hoje em dia é um bairro, não há nada que relembre o Açude do Ginásio.