estado-islâmicoO conflito armado estimulado pelo avanço do grupo extremista autodenominado Estado Islâmico na Síria e no Iraque já custou dezenas de milhares de vidas, mas, em meio à guerra, permanecer vivo muitas vezes não significa ter uma vida muito melhor. “Ele era como um monstro, sem qualquer traço de humanidade”, disse à BBC uma adolescente de 15 anos sobre o homem que a raptou, estuprou e manteve em cativeiro. Veja o vídeo neste link.

Para ela, a guerra em curso há cinco anos lhe custou sua casa, sua juventude e sua inocência. A jovem yazidi vivia em Mosul, segunda maior cidade iraquiana e hoje sob o controle do grupo, e foi alvo do ódio sectário de militantes por pertencer a uma das minorias religiosas perseguidas por eles.

“Quando os combatentes do EI chegaram, eu estava com minhas duas irmãs. Eles nos bateram e nos colocaram contra a parede e, depois, cada um escolheu uma de nós”, diz a adolescente, que prefere manter seu anonimato por temer pela segurança de familiares que permanecem prisioneiros do grupo.

“Fui escolhida por um iraquiano de 25 anos. Ele me estuprou ali e, depois, na casa de sua família. Fui espancada várias vezes.”

Sem escolha

Depois de um mês e meio, o homem foi combater na Síria, onde morreu. Ela conseguiu escapar, mas, como Mosul é totalmente controlada pelo EI, foi recapturada e entregue a outro homem, irmão de um comandante do grupo. “Eu me recusei a ir com ele. Gritava e chorava. Ele me estuprou, disse que tinha me comprado por US$ 800 (R$ 2,95 mil) e que eu não tinha escolha.”

Meses depois, a jovem percebeu que estava grávida. “Tentei muitas vezes me livrar da criança dentro de mim, tomando pílulas ou carregando muito peso, entre outras coisas. Infelizmente, não funcionou”, diz ela. “Estava carregando o EI no ventre e sentia que o bebê seria como eles, um criminoso e um monstro.”

Há sete meses, ela deu à luz seu filho em um hospital de Mosul. O homem que a havia “comprado” queria se casar com ela por conta do bebê, mas a jovem se recusou. Um parente do homem a ajudou a fugir, desde que ela deixasse o bebê para trás. Ela foi embora quando seu filho tinha 3 meses de vida.

“Amava o bebê, mas queria voltar para a minha família antes que ele se acostumasse comigo e eu me acostumasse com ele. Ainda penso nele. Independentemente de qualquer coisa, ele ainda é parte de mim.” Agora, a jovem quer voltar à escola e espera um dia se casar e ter uma família. Mas antes sonha em ver suas irmãs em liberdade novamente – assim como ela.

Do G1 Mundo