O nome máximo da música popular brasileira em Serra Talhada esteve na redação do FAROL, o cantor e compositor Rai di Serra. Mostrando toda a sua versatilidade musical e áurea de artista, Rai veio acompanhado de seu belo violão personalizado e dos 31 anos de carreira que batalhou Brasil a fora.

Em uma conversa leve e descontraída Rai demonstrou todo seu amor pela música, pela composição e pela sua cidade natal, que diz ser onde está vivendo a melhor fase de sua carreira, após anos de experiência. Confira a entrevista na íntegra e ainda assista ao vídeo da música “Ser Luz”.

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Fotos e Filmagem: Farol de Notícias / Alejandro García

ENTREVISTA COM RAI DI SERRA

FAROL: Rai, é um prazer recebê-lo na redação do Farol e uma honra entrevistá-lo, porque você é um dos grandes nomes da música serratalhadense e gostaríamos de saber um pouco sobre a história do início da sua carreira. Como tudo começou?

Rai di Serra: Bem Manu, para mim é um prazer imenso, eu sou um faroleiro e tenho muito orgulho dessa imprensa séria que nós temos aqui em Serra Talhada. E é um prazer imenso falar sobre o início da minha carreira que foi árdua, como continua sendo até hoje, só que com bastante vigor, bastante seriedade. Venho encarando a música há 31 anos, comecei no estado do Pará, na cidade de Paragominas, no ano de 1984.

Sou pernambucano, serratalhadense, mas minha adolescência foi no estado do Pará e onde eu adquiri essa vontade de cantar, o dom vem da natureza, mas me aperfeiçoei lá através de uma banda chamada Alta Frequência. Eu venho dos shows de calouros e comecei na banda Alta Frequência. Que é uma banda que tem uma importância muito grande na minha vida. Em 1986 ou 87, aconteceu um acidente e éramos seis componentes e perdemos quatro componentes neste acidente.

Depois disso eu trilhei pelo caminho solitário, voz e violão. Sempre primei pela boa música, pela qualidade da música. Meus ídolos e meus professores, a quem eu procuro seguir com muito afinco é o Luiz Gonzaga, Djavan, Gilberto Gil, o próprio rei Roberto Carlos e tem muita coisa boa que a gente escuta na MPB. Dou muito valor também a música regional: Elomá, Xangai, Maciel Melo, Anchieta, Petrúcio Amorim. E estamos aí na luta com 31 anos de música e me sinto realizado.

FAROL: Você tem vários álbuns gravados, em alguns deles você tem músicas em reggae, gravados em vinil e é do seu perfil fazer música diferente do perfil da maioria dos músicos de Serra Talhada. No início da sua carreira era mais difícil gravar e lançar álbuns com o estilo de música que você faz?

R.S.: Nessa época a gente tinha um movimento musical mais abrangente, porque a gente tinha aqui em Serra Talhada, como hoje tem muitas bandas. Só que hoje são bandas de forró, arrocha e estilos novos, na nossa época era o rock com D’gritos, tínhamos o Rui Grudi, que fazia a irreverência que ele sempre fez, eu já fazia um estilo mais reggae. A gente buscava uma igualdade social, por eu ter nascido em bairros longínquos do centro, por ter trabalhado em Recife e ter morado em lugares considerados ou próximos a favelas.

Morei em Olinda, no Bom Sucesso, no Amparo, no Bairro Novo e aqui em Serra eu sou nascido e criado na Bomba, que hoje é conhecido como São Cristóvão. A gente sentia na pele certa discriminação, tanto com a gente quanto o que a gente vinha vendo o que acontece no Brasil, é diferente. A cor choca o povo, tem muita gente que não gosta do timbre da cor mais forte como a nossa. Desde essa época eu fazia essas músicas, morei em São Paulo e daí fiz uma música “morar na favela nada tem de mal”, e compus “Favelas” na época que morava em Recife. Essas músicas não imploram por apoio, só pedem respeito pela nossa cor e pela nossa brasilidade. Só queremos ser iguais.

FAROL: Tem ideia de quantas músicas você já gravou e compôs?

 R.S.: É difícil responder porque eu nunca sentei para contabilizar, mas tem uma faixa de 150 músicas gravadas. Inclusive com parcerias com um compositor que eu considero um dos melhores da nossa região, que é o Tico de Som. Para mim é uma virtuosa da poesia matuta, urbana, regional. A gente casou muito bem, como um casal para a música. Principalmente nos anos 80 e 90 fizemos muita música.

Devagarinho a gente vai compondo, mas já fizemos muita coisa. Sou autor do hino do Serra Talhada Futebol Clube, autor do hino do Ferroviário, do hino do Paragominas do Pará, que ficou em 3º lugar no campeonato paraense agora. Tem músicas que eu fiz para o Salgueiro Futebol Clube antes dele subir para a primeira divisão, que deu uma grande moral.  E a gente vai compondo, o que dá na telha a gente escreve.

O primeiro álbum que e gravei foi o “Ser Luz”, que é título de uma música de Leo Godoy, muito bonita e até hoje eu não consegui encontrar uma música de uma melodia tão bonita e de uma poesia tão forte. Na época que ele fez ele estava muito inspirado e abençoado.  E eu resolvi dar título ao LP, que dele partimos para outro o “Salsita Caliente” que já foi um álbum multicultural, onde gravamos salsas, merengue. Eu fiz uma viagem pelos estados que eu conheci e pelas culturas que eu tive o prazer que conviver.

Depois nós fizemos um CD com músicas exclusivamente daqui de Serra Talhada, esse CD foi patrocinado pela Tupan. É um CD bem família, tem uma música que eu fiz para minha mãe, outra para o meu pai, para os meus filhos, para minha matriz que é Serra Talhada, é meu tudo. E depois desse CD nós fizemos um em voz e violão, onde eu interpreto músicas de barzinho que é algo que eu gosto também, em MPB. E o último é o “Pérolas Musicais” que faz uma viagem pelas grandes composições de Mário Lago, Pixinguinha, Cartola, Adoniram e muita gente boa.

 

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FAROL: O movimento de música MPB tem perdido espaço para outros gêneros no mercado da música, como você percebe esse atual cenário em que os jovens geralmente não curtem mais a música que você produz, por exemplo?

 R.S.: É uma guerra, desde que a gente começou e a gente resolveu trilhar por esse caminho de música boa, que música que dá exemplos de vida, que você escuta e percebe que é música feita com sentimento, eu percebo que é uma batalha realmente árdua. Muito difícil e está piorando atualmente, a culpa é da grande mídia e dos produtores. Não generalizando porque na mídia também toca música boa, mas é muito difícil. Ouvir um Vander Lee hoje, você descobrir um Osmir Júnior, que é do Maranhão, Carlinhos Veloz, um Tico de Som mesmo. Ouvir isso em uma rádio é a coisa mais rara desse mundo.

E continua desse jeito, a gente vê pela programação festiva da cidade e da região. Não tem mais aquele grande artista, um ídolo do passado que dá vontade de você ouvir. Parece até uma perseguição, a gente se sente marginalizado por isso. Não canta, não é contratado para os grandes eventos e nem pode ir aos grandes eventos porque não tem nenhuma atração boa para você assistir, que dê para captar alguma coisa interessante para sua carreira, para sua família, pro seu cotidiano.

FAROL: Nesses 31 anos de carreira, qual foi o momento que você sentiu que sua carreira valeu a pena e que você acertou persistindo no caminho musical que escolheu traçar?

S.R.: Eu tive uma fase muito boa em Recife, nos anos 90 eu vi o sucesso de perto e me assustei. Você com sucesso e com dinheiro você tem tudo, tem amigos, tem convites para “n” festas e folias. E quando você foge ou essa coisa te escapa aí você sente que aquilo era uma ilusão passageira. E hoje eu sou mais firme com isso, e sinto que quando eu estou cantando e tem alguém ouvindo é porque gosta e que tem algum teor interessante.

Em Brasília também foi muito bom, na Paraná, no Pará, em Teresina, Maceió, Recife. Mas hoje, com a maturidade que eu tenho, estou gostando mais daqui de Serra Talhada. Pela maturidade, pela experiência e pela aceitação daquelas pessoas que já conhecem meu trabalho e vão para o barzinho onde eu vou tocar e vai me pedir “n” músicas, entre aspas, aquelas.

FAROL: E aqui em Serra Talhada, qual foi a apresentação mais especial da sua carreira?

 S.R.: A gente teve várias aqui, na época da Missa do Poeta a gente conseguiu se apresentar com o Quinteto violado, com muita gente boa. Teve uma época aqui em Serra Talhada que eram apresentados esses projetos, e era muito bonito. Hoje em dia não tem mais o que falar, o que eu acho interessante hoje é eu cantar lá no bar de Raimundo toda sexta-feira, já está no calendário. E os eventos que vão aparecendo aí, pequenos, coisas pequenas.

Nos grandes eventos a gente está por fora. Na Exposerra do ano passado a gente foi convidado de última hora, como sempre acontece. Somos considerados artistas da terra, como se fôssemos minhocas e agora somos considerados tapa buracos, quando falta uma atraçãozinha a gente vai. Mas faz valer. Nós fizemos a abertura do show de Fábio Jr. ano trasado, com Cézar Razec na guitarra, Chicão no contrabaixo, Aldo Miguel nos teclados, Cristiano na bateria e fizemos um quinteto.

Quando a gente terminou, que disse tchau, o produtor de Fábio Jr. subiu do camarim e pediu para tocar mais cinco músicas enquanto Fábio Jr. tomava duas doses de whisky porque ele estava gostando do repertório e do nosso trabalho. E isso é muito interessante para a gente, ser valorizado porque quem tem valor. Foi muito bom, no show de Fagner aqui fui convidado para o palco para conversar com os meninos que já trabalharam comigo, Maestro Spoc, Manassés, que a gente se conhece há muito tempo.

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CONFIRA O VÍDEO DA MÚSICA SER LUZ – RAI DI SERRA