saudade1[1]Por Adelmo dos Santos, escritor e poeta de Serra Talhada

Toda vez que eu passo em frente à Escola Irmã Elizabeth, eu fico emocionado. Foi ali que eu estudei fazendo o curso primário nos meus tempos de criança, e me vem muitas lembranças. Em 1966 a escola se chamava Grupo Escolar Irmã Elizabeth, era uma escola municipal não existia merenda, a gente enganava a fome no recreio da escola, brincando e jogando bola. Nessa época a minha professora era Dona Nilsa e a diretora era Zuleide Feitosa.

Não tinha nada de graça, tinha que comprar o material escolar juntamente com a farda. A gente passava apertos era tudo mais difícil, o salário era o mínimo, o banquete das famílias era macarrão com frango só nos dias de domingos. Em 1968 começava uma nova história, construíram a cozinha e pelo tilintar dos pratos já havia outros bolos além dos da palmatória. Eu senti muita alegria vendo Elsa de Dudé fazendo uns bolos de cacos dentro de um aribé.

Toda hora do recreio era uma correria, com todo mundo querendo ser o primeiro da fila. Bajega e Zé Miúdo eram quem comiam mais. Tonho Cabeção era outro, saía com os bolos nas mãos e outros dentro dos bolsos. Ficava desconfiado se tinha alguém notando, mas o óleo de salada deixava os bolsos melados e acabava lhe entregando. Quando era época da seca a coisa ficava feia, a salvação da merenda era o bolo de caco e a sopa de aveia.

No rádio Chico Buarque só cantava “Construção”, eu me identifiquei com um trecho da letra que diz assim: “Comer feijão com arroz como se fosse um príncipe”. Na maioria das casas feijão, arroz e ovo frito era o cardápio oferecido, lembrando a música de Chico. Essa música era o meu hino, eu escutava todo dia, pra mim era interessante, retrava a minha vida nos meus tempos de menino.

Eu pensava no futuro em todos os empecilhos que teria que enfrentar e acabava sorrindo. Além de Dona Zuleide que era a diretora, eu tive três professoras pra não esquecer jamais, Dona Nilsa, Dione Gomes e Dona Socorro Novaes. Eu agradeço a minha mãe por tudo que tenho agora, ela me matriculava e me levava pra escola. Ela ficava preocupada com as notas que eu tirava.

Mas eu fui um bom menino, só tirava notas boas, estudei de madrugada sob a luz do candeeiro, mas quando fazia as provas sempre estava entre os primeiros. A maior nota era 100, mas eu não perdia tempo, para agradar minha mãe eu estudava pras provas querendo tirar 200. Hoje, eu passo em frente a Escola Irmã Elizabeth, fico olhando de fora imaginando o que acontece por dentro, boto o passado na frente e comparo com o presente recordando a minha história, vendo o tempo passar. Uma emoção me invade, dá vontade de chorar.