saudade1[1]Há um velho ditado popular que diz que recordar é viver. Portanto, quando me atrevo a dividir com vocês, em alguns domingos, retalhos da minha infância, não quero voltar ao passado. Ele ( o passado) é apenas uma moldura na parede do tempo. Mas relembro histórias que fizeram de mim uma criança feliz, e, por isso, aos meus 50 anos, ainda guardo com carinho no meu baú de lembranças.

A pouco dias dos festejos juninos, a fogueira ainda está bem acesa em minha frente. O ritual era mágico. Meu pai chamava os filhos para exatamente às seis horas, acendermos a lenha em frente da casa. Antes, era aquela gritaria com chumbinhos, chuvinhas e os meu preferidos: os ‘peitos de veia’.

Cadeiras eram colocadas nas calçadas para ouvir o estalo da lenha e a festa dançante do fogo. Alcancei mulheres colocando faca no tronco da bananeira na busca aflita por maridos. Fui testemunha das cerimônias dos compadres de fogueira e das cinzas do outro dia. A rua era pequena para tanta alegria. Afinal, o bom do São João, que tinha gosto de milho verde, era poder abraçar a família, gargalhar na calçada e sentir-se feliz.

Hoje, não entendo porque muita coisa mudou e o São João bom de verdade passou a ser sinônimo de grandes festas de massa e com bandas musicais de gostos duvidosos. Hoje, as fogueiras são acesas, mas não há cadeiras nas calçadas. Os ‘compadres’ não fazem mais ‘pactos’ de amizade e tudo foi transformado em estória de trancoso. Mas a minha moldura está bem viva. Graças a Deus! Meus retalhos não vou deixar na penumbra do tempo. Um bom São João para todos.