O FAROL entrevista o bispo da diocese de Afogados da Ingazeira, dom Egídio Bisol. Nesta conversa, ele comenta sobre qual será o futuro da Igreja tendo à frente o Papa Francisco. Aqui, ele pondera que o Papa deverá imprimir uma gestão equilibrada. “Não me parece concreto imaginar que o Papa Francisco consiga fazer “milagres”, mudanças repentinas de um dia para outro. Inclusive porque nossa  Igreja tem uma forte preocupação em manter sua unidade dentro da pluralidade”, avalia.

FAROL – Como o senhor recebeu o anúncio do novo papa Francisco?

Recebi a notícia com muita emoção e alegria como as centenas de milhões de católicos no mundo inteiro. Também foi uma surpresa por tratar-se de uma pessoa de quem não se falava muito, um cardeal que não estava no número dos “papáveis” apresentados pela mídia. Uma figura de pastor que tem uma longa história de aproximação com o povo, de atenção aos seus anseios e necessidades. Mais uma vez apareceu claramente o que nossa fé afirma: para entender o mistério da Igreja não podemos usar simplesmente os critérios “normais”: precisamos reconhecer nela, apesar de suas fragilidades e pecados, uma Presença do Divino Espírito Santo que a conduz.

FAROL- É possível imaginar mudanças profundas na estrutura da Igreja com o novo Sumo Pontífice?

DOM EGÍDIO– Não me parece concreto imaginar que o Papa Francisco consiga fazer “milagres”, mudanças repentinas de um dia para outro. Inclusive porque nossa  Igreja tem uma forte preocupação em manter sua unidade dentro da pluralidade. Mas podemos esperar mudanças graduais e corajosas em suas atitudes pastorais, na busca de maior coerência com o Evangelho.

Aliás, parece-me que nas últimas semanas duas figuras, Bento XVI e Francisco, já realizaram grandes mudanças na estrutura da Igreja: um com sua própria renúncia, o outro com sua simplicidade, com a escolha de um nome rico de sentido, com seu gesto de pedir a oração dos seus “diocesanos” no início do seu serviço como bispo de Roma.

FAROL- É  positivo ter um papa latinoamericano?

DOM – Acredito tratar-se de um outro fato histórico. A Igreja revela ainda mais o seu ser “universal”. Um papa latino-americano poderá ajudar as comunidades cristãs da América Latina a colocar, de forma mais eficaz, os seus muitos dons a serviço do crescimento da Igreja toda. Isso poderá levar também às Igrejas mais antigas da Europa um novo sopro do Espírito também às Igrejas mais antigas na Europa.

FAROL – O senhor ainda tem esperanças em que possa ser eleito um papa brasileiro?

Nada impede que no futuro possa ser escolhido um brasileiro para ser o bispo de Roma. Acredito, porém, que no caso do Papa o importante não seja ser brasileiro ou africano ou asiático: o importante é que se trate de uma pessoa com o coração aberto ao mundo inteiro, capaz de ser um sinal transparente da presença de Jesus o Bom Pastor para todos os que vivem mergulhados nos desafios e problemas do mundo de hoje.