Por Adelmo Santos, poeta e escritor de Serra Talhada

“Relembro as festas de setembro nos meus tempos de menino, eu ainda era puro a cidade era pequena, eu me sentia seguro. Glorinha era a costureira que fazia as minhas roupas. Sabe,  eu ficava tão lindo, com uma camisa de renda e uma calça boca de sino. Meu sapato de verniz  me deixava todo lord, quando eu chegava na praça eu me sentia feliz.

Andava nos cavalinhos, carrossel e nas canoas. Sentia um frio na barriga, eu ficava bem na proa. A festa era só na praça, o povo se conhecia. As barracas eram juntas, todas tinham radiolas com o som se misturando nos ouvidos das pessoas, que bebiam e curtiam achando a festa tão boa.

Enquanto na radiola de uma das barracas, Roberto Carlos cantava: “Eu te darei o céu”, noutra barraca vizinha, Roberto Carlos cantava:  “E que tudo mais vá pro inferno.” E entre o céu e o inferno as pessoas se divertiam. Com os sons das radiolas ao mesmo tempo ligadas, as pessoas não entendiam o que as outras falavam. Quando era a madrugada cada um pagava a conta, a conversa era fiada, aquilo não dava em nada.

Hoje a festa de setembro é um balcão de negócio, não tem conversa fiada, é para quem gastar mais. Os valores das pessoas se perderam para trás, existe até camarote pra separar as pessoas daquelas que não tem posse. As emoções do passado que eram coisas tão boas, agora estão divididas, ficou um pouco na praça, o resto foi pra lagoa.

O desfile dos colégios já não tem mais emoção, perdeu o sentido cívico por onde a banda passa o seu toque não diz nada. Senti saudade das bandas que tocavam antigamente, com Luis Fogo e Maninho tocando os nossos hinos, emocionando a gente. Os brinquedos são gigantes, muitos deles diferentes. Tem kamikaze e viking assustando muita gente. Tem hora que o bicho sobe, tem hora que o bicho voa. O friozinho da barriga agora é um vendaval, parecendo um furacão, arrebentando por dentro mexe até com o coração.

Quando o brinquedo começa, dão mais gritos que risadas, a emoção é tão grande que a pessoa corre o risco de não segurar a barra, e pedir logo o pinico. Eu pensava que o viking era um bicho, era um macaco. Olhei prum lado e pro outro e não vi king nenhum. O viking era uma barca, era um brinquedo comum. Nessas festas de setembro muitas coisas já mudaram, a população cresceu, a praça ficou pequena, hoje não cabe ninguém, mudou a festa, as pessoas, e os brinquedos também. Quem não mudou foi o parque até parece uma sina, toda festa de setembro sempre vem o “ Parque Lima.”