Bom dia, boa tarde e muita boa noite aos faroleiros e faroleiras de plantão. Chegamos ao mês de maio. Um mês para mim por demais romântico e saudosista. Não por ser o mês das noivas e das mães, mas por ser o mês das novenas marianas. Não sou católico praticante. Todavia, fui criado reverenciando as novenas de maio e fiquei com uma coisa registrada no meu quengo: Os benditos das novenas. “O inferno treme quando se festeja, o inferno treme quando se festeja”. Este estribilho de um hino era uma viagem mágica para mim. O inferno tremer, os diabos assustados nas suas caldeiras ferventes. Arriégua. Fantástico! Mas isto é uma outra história.
A viagem deste domingo mariano tem haver com o episódio que marcou a semana, com a prisão das crianças que brincavam com armas de brinquedo em Serra Talhada. Aliás, o mote foi dado pelo grande faroleiro Zé do Bode, cujas páginas do FAROL estão abertas para suas memórias. Afinal, arma de brinquedo é ou não um mal nas mãos de crianças? Eis a questão. Vou logo respondendo que no meu tempo não. Hoje, talvez. Os tempos são outros? Este é o “x” da questão.
Fui criança tipo moleque de rua jogando bola em calçadas, correndo de pés descalços pelas ruas da favela, Bernadino Coelho e tantas outras. Éramos felizes quando brincavámos de rouba bandeira e garrafão e não tenho nenhum trauma de uma chapuletada que levei nas costas que fiquei “estatalado”. Fui criança feliz brincando de catuca- hoje é pega-pega- inaugurando as areias das ruas que iam passar por calçamentos e não conto a vezes que a areia se trasnsformava num ringue de troca tapas ou num campinho de futebol. Fiz muita bola de meia e fui sócio-fundador do Cruzeiro Espote Clube porque eu era o dono da bola.
Entretanto, recebi de presentes armas de brinqedo. Ainda tenho lembranças de uma metralhadora barulhenta que ganhei no natal que acendia uma luz vermelha e fazia “ratttattaaaaaa”. Pense num barulho da bixiga-lixa. Os revólveres de brinquedo ajudavam as minhas fantasias de filme de faroeste quando eu me transformava no meu ídolo, o Sartana. Arriégua. Era bom demais. Noves fora nada, nunca dei um revólver de brinquedo ao Giovanni Filho. Mas cá estou tergiversando mais uma vez.
É fato e notório a ausência destas brincadeiras que eram “coqueluches” na minha geração. A geração 60. Não vejo mais moleques de rua e os que encontro estão em busca de algum tipo de droga ou entorpecente. A minha geração caducou ou o mundo das ruas é outro? Não tínhamos “galeras”, éramos uma turma de amigos. Brincávamos e dividíamos os nossos brinquedos. Tínhamos disputas mas o mais importante era o prazer de brincar e chegar sujo em casa. Fui um moleque de ponta de rua e aprendi muito com isto. Tenho saudades porque fui feliz. Um bom domingo para todos e uma boa reflexão sobre este tema interessante. “O inferno treme quando se festeja… o inferno treme quando se festeja”.
14 comentários em MEMÓRIA: Dos tempos das brincadeiras de pontas de rua, tempo em que o inferno tremia