Do g1 Mundo

 Foto: BBC

Doze missionários da congregação religiosa americana Christian Aid Ministries (CAM) que foram capturados em outubro por criminosos no Haiti conseguiram escapar sozinhos do cativeiro na última semana, segundo a organização.

Eles eram os remanescentes de um grupo 17 pessoas que foi sequestrado depois de visitar um orfanato na cidade de Ganthier, a leste da capital, Porto Príncipe. Dois reféns haviam sido libertados em novembro e outros três, no início deste mês.

Em uma entrevista coletiva nesta segunda (20), Weston Showalter, porta-voz do CAM, disse que os reféns se guiaram pelas estrelas enquanto caminharam por horas em uma mata fechada.

“Quando sentiram que era o momento certo, eles encontraram uma maneira de abrir a porta – que estava fechada e bloqueada. Seguiram silenciosamente para o caminho que (tinham) escolhido e deixaram o local onde estavam detidos”, afirmou Showalter.

Desviando de “numerosos guardas”, o grupo seguiu em direção a uma montanha que tinha avistado dias antes, usando as estrelas para guiá-los. Não foi esclarecido exatamente como eles conseguiram passar pelos vigias.

Entre as 12 pessoas havia um casal, um bebê de 10 meses e crianças de 3, 14 e 15 anos, além de quatro homens adultos e duas mulheres.

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Eles atravessaram “bosques e matagais, se embrenhando no meio de espinhos e sarças”, disse Showalter.

Ainda segundo o porta-voz, os reféns, incluindo as crianças, permaneceram em silêncio durante a fuga. O bebê foi envolvido em um tecido para que ficasse protegido dos espinhos.

“Foram duas horas caminhando na floresta. Estivemos em territórios dominados por organizações criminosas durante toda o trajeto”, acrescentou, citando o relato de um dos fugitivos.

Ao amanhecer, eles encontraram uma pessoa com um telefone, que os ajudou a ligar para as autoridades.

O grupo foi levado então de volta à Flórida em um voo da Guarda Costeira dos Estados Unidos, segundo a Christian Aid Ministries. A maioria já está reunida novamente com suas respectivas famílias.

Quando a notícia de que os reféns haviam sido libertados foi divulgada, na semana passada, o porta-voz da polícia Gary Desrosiers disse à agência de notícias AFP que as autoridades já negociavam havia semanas com a organização criminosa 400 Mazowo, apontada como responsável pelo sequestro.

Em entrevista coletiva à imprensa, David Troyer, diretor da congregação religiosa, disse que “as pessoas que procuraram nos ajudar forneceram fundos para pagar resgate e permitir que o processo de negociação continuasse”. Ele não explicou, contudo, se algum pagamento foi feito.

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Os sequestradores exigiam resgate de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,75 milhões) por refém – não há informações sobre se algum valor foi desembolsado.

Ainda de acordo com a congregação, os criminosos forneceram comida e água potável para os missionários durante o cativeiro e leite em pó para os menores. A água fornecida para higiene, contudo, não era limpa, e provocou feridas na pele de alguns dos reféns, aqueles que estavam com a pela machucada por picadas de mosquitos.

“Os reféns falaram com o líder dos criminosos em várias ocasiões, corajosamente lembrando-o de Deus e advertindo-o do julgamento final caso ele e os demais membros continuassem no grupo”, disse Showalter, acrescentando que os missionários ficaram 24 horas em vigília fazendo orações durante o cativeiro.

Não houve confirmação independente do relato de Showalter por parte de autoridades americanas ou haitianas.

O Christian Aid Ministries se descreve como um canal para que amish, menonitas e outros grupos anabatistas “atendam necessidades físicas e espirituais das pessoas em todo o mundo”.

A organização, que fornece abrigo, comida e roupas para crianças haitianas e diz atuar no país há mais de 30 anos, é uma das muitas entidades sem fins lucrativos que prestam ajuda ao Haiti, um dos países mais pobres do mundo.

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Poderosa organização criminosa haitiana

O sequestro é uma das principais atividades usadas pelo 400 Mazowo para se financiar.

O grupo já havia capturado religiosos em abril deste ano, clérigos católicos que também foram eventualmente libertados – não se sabe se mediante algum resgate.

O Haiti tem uma das maiores incidências de sequestro do mundo, à medida que organizações criminosas poderosas exploram o caos que instalou no país nos últimos anos.

Este ano foi particularmente ruim, com quase 800 sequestros registrados antes do fim de outubro.

A deterioração se deu na esteira do assassinato do presidente Jovenel Moise em julho. Desde então, facções rivais lutam para obter o controle do país, diante de uma força policial em dificuldades.