Por João Luckwu, escritor e poeta serra-talhadense
Como diria o poeta e compositor Luiz Bandeira: “Quem é, de fato, bom pernambucano espera um ano e se mete na brincadeira”. Na cultura popular o vocábulo frevo é derivado do verbo “ferver”. A marcha entitulada “Vassourinhas” é um marco no carnaval pernambucano e atire a primeira pedra quem nunca sentiu um frenesi quando a orquestra começa a ecoar um “pã rãn rãn rãn rãn rãn rãn“.
Levando-se em consideração as modalidades do frevo, podemos assim dizer que no de rua predomina a manifestação do corpo enquanto que nos frevos de bloco e canção, além da manifestação do corpo, possui também uma manifestação da alma, haja vista a presença marcante do lirismo e nostalgia, possuindo uma melodia mais cantável e um ritmo mais aprazível.
Na canção “Aurora de Amor”, o poeta Romero Amorim retrata o seu amor pela Rua da Aurora.
Meu Recife eu me lembro
De Aurora à janela
Debruçada tão bela!!
Sobre o Capibaribe
O seu rio namorado
E a sorrir flamboyants
Em vermelho rendado
(….)
Imortalizada na voz de Claudionor Germano, o mestre Capiba ressalta o amor de modo sublime na canção “Oh, Bela”!!
Você diz que ela é bela,
Ela é bela, sim senhor.
Porém poderia ser mais bela
Se ela tivesse o meu amor
Capiba também nos apraz com a irreverência poética da canção “Madeira que cupim não rói” imortalizada na voz de diversos intérpretes.
(….)
E se aqui estamos, cantando esta canção
Viemos defender a nossa tradição
E dizer bem alto que a injustiça dói
Nós somos madeira de lei que cupim não rói
Os compositores Getúlio Cavalcanti, na canção “Último Regresso” e Nelson Ferreira com “Evocação nº 1” retratam dois clássicos da poesia.
(….)
Falam tanto que meu bloco está
Dando adeus pra nunca mais sair
E depois que ele desfilar
Do seu povo vai se despedir
Do regresso de não mais voltar…..
(….)
Adeus, adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E Recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia
Entretanto, há que se destacar a essência poética no hino do bloco “Elefante de Olinda – Olinda, Quero Cantar”, dos compositores Clídio Nigro e Clóvis Vieira.
(….)
Olinda!
Quero cantar
A ti, esta canção
Teus coqueirais
O teu sol, o teu mar
Faz vibrar meu coração
De amor a sonhar
Minha Olinda, sem igual
Salve o teu carnaval.
Bem como na canção “Voltei Recife”, do compositor Luiz Bandeira, adaptada para o frevo de rua e imortalizada na voz de Alceu Valença.
(….)
Quero sentir
A embriaguez do frevo
Que entra na cabeça
Depois toma o corpo
E acaba no pé
Embora Pernambuco seja reconhecido nacionalmente como a “Capital do Frevo”, é em Olinda e Recife que ocorrem a maior concentração de foliões. Os blocos carnavalescos “Homem da Meia-noite”, em Olinda, e o “Galo da Madrugada”, no Recife, são os que mais se destacam.
No poema entitulado “Irmãs do Beberibe” eu fiz uma singela homenagem às cidades-irmãs Recife e Olinda, em comemoração à passagem de aniversário. A ideia surgiu com a união de duas décimas em decassílabos construídas em momentos distintos, a primeira em homenagem a Olinda e a segunda em homenagem ao Recife quando da participação em festivais de poesias organizados pelo Cordel Improvisado.
O poeta e músico paraibano Nelson Nunes Farias abraçou a ideia e, juntamente, com o poeta Simplício Lira – Pio demos musicalidade o poema. Neste contexto, surgiu a necessidade de construção de uma terceira estrofe.
IRMÃS DO BEBERIBE
No enlace entre o sacro e o profano
És Olinda uma terra abençoada
A cultura em seu leito fez morada
Expressando o barroco lusitano
No maior carnaval pernambucano
A folia transcende a liberdade
Casarões são retratos da cidade
Preservando a fiel arquitetura
Capital brasileira da cultura
Patrimônio maior da humanidade
A beleza dos rios que te abraçam
Faz de ti a “Veneza Brasileira”
Tens no frevo a paixão mais verdadeira
Num compasso em que as pernas se entrelaçam
Teus corais nas areias se transpassam
Quando o mar vem beijar “Boa Viagem”
O antigo e o moderno se interagem
Marco Zero, Brennand, parques e vias
Oh, Recife! de encantos e magias
Semelhança divina em sua imagem
Com seu leito selando esta união
Margeadas ao Rio Beberibe
Simpatia pra ao mundo então se exibe
Despertando no ser uma paixão
São dois corpos pulsando um coração
Cada qual com seu jeito singular
No Recife o progresso a caminhar
A cultura em Olinda predomina
Em comum têm o frevo que fascina
E o abraço do rio com o mar
João Luckwu – Serra Talhada-PE
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