Fotos: Farol de Notícias/Max Rodrigues

Publicado às 04h08 desta quinta-feira (5)

Em alusão a 8 de março, dia Internacional da mulher, o Farol de Notícias lança a ´serie de reportagens Mulheres de Luta, que irá trazer histórias de vidas de mulheres serra-talhadenses que são símbolo de luta, de resistência e garra. Nesta primeira edição, você vai conhecer a trajetória de Zulmira Silveira Bezerra da Silva, 88 anos, lavadeira que trabalhou dia e noite para criar cinco filhos.

Após a morte do pai, com apenas 7 anos de idade,  Zulmira começou sua luta pela sobrevivência. Tinha que trabalhar junto com a mãe para ajudar criar os irmãos. Casou-se aos 20 anos, mas o matrimônio durou apenas 3 anos, esse relacionamento deu fruto ao primeiro filho. Após algum tempo decidiu entrar em um novo casamento, do qual teve mais quatro filhos.

A mãe detalhou que, assim como o primeiro, o segundo foi um matrimônio conturbado, de traições à falta de paternidade, pois seu cônjuge foi apenas um “reprodutor”, por isso também não deu certo. Na época que decidiram não mais continuar com aquele relacionamento falido, o filho mais velho tinha apenas 7 anos.

Mesmo durante o período de casada, a luta para criar os filhos era intensa. De lavadeira à agricultora, dona Zulmira com os olhos marejando em lágrimas relembra sua árdua, mas digna e gratificante, trajetória. A matriarca da família Silveira relatou que  trabalhou de tudo para sobreviver.

“Lavava e passava roupa de dez famílias, trabalhava com carvão, alugado, no cabo da enxada, de barraqueira na emergência, fui ‘mangaieira’ no antigo mercado público, fazia faxina e tudo que aparecia”, relembra a ‘guerreira’ ressaltando que o serviço era de domingo a domingo.

ROTINA

Durante do dia, andava pelas ruas do Alto da Conceição, na época Alto do Urubu com trouxas de roupa na cabeça, em direção aos barreiros ou a caminho das casas das famílias que a contratavam para entregar as peças, devidamente lavadas e passadas. A noite, a pessoas já não viam esse cenário, mas a incansável Zulmira, não por opção, não estava descansando como outras mães.  Em casa, à luz de candeeiro, mãe e filhos trabalhavam até raiar o dia.

Sentados no quintal de casa, no Alto da Conceição, À beira de bacias de pneus, diante da pouca luz do candeeiro e da fumaça preta entrando pelas narinas, esfregavam peça por peça, com as mãos delicadas e sem forças, mãos de cabecinhas que sonhavam poder desfrutar da infância, cabecinhas que sonhavam segurar um lindo brinquedo. Diferente das mãos de dona Zulmira, já calejadas da pedra e da brasa.  Quando o dia amanhecia, ela  já estava agarrada ao ferro, passando a primeira remessa que tinha lavado a noite.

Emocionada, afirma que foi  à custa de muita luta, mas é grata por hoje poder contar sua história e por ter tornados seus filhos cidadãos de bem.

“Me sinto muito feliz e muito agradecida a Deus por ter criado meus filhos. Todos são cidadãos de bem. Não pude oferecer estudo a eles, mas ensinei a trabalhar, a serem dignos e honrados, criei todos na minha obediência. Agradeço muito porque vemos filhos que tem pai e mãe, que foram bem criados, mas virAM o mundo ao avesso”, reforça a Dona Zulmira.

Aos 65 anos, já cansada pelo árduo e exacerbado trabalho, enfrentou um problema de saúde, provocado por um corpo estranho detectado no corpo. Realizou duas cirurgias e passou 45 dias em tratamento em Recife, mas interrompeu o procedimento devido a máquina que usava para fazer o tratamento quebrar. Retornou a Serra Talhada e recorreu aos tratamentos naturais e obteve a cura.

Aos 66 anos, conseguiu a aposentadoria. Não que seja uma recompensa, uma vez que o benefício jamais pagará os problemas de saúde adquiridos na sua longa e intensa jornada de trabalho.

Dona Zulmira é um exemplo de mulher digna e corajosa, que não formou doutores, mas formou pessoas de bem, de caráter, princípios e valores.

Dona Zulmira ao lado do filho mais velho, Otacílio Ribeiro