A trajetória do camelô a dono de mercadinho em ST

Foto: Celso Garcia/Farol de Notícias

Publicado às 13h15 desta segunda-feira (28)- com informações do repórter Celso Garcia

 

Por algumas décadas, o sertanejo nutria, alguns ainda nutrem, a esperança de uma vida melhor nos grandes centros urbanos, sobretudo em São Paulo, como o serra-talhadense Adailton José de Moura, 46 anos, comerciante que deixou a Capital do Xaxado para tentar a vida em São Paulo, onde lutou 15 anos. Durante esse tempo, surgiu um novo sonho, voltar para sua terra.

Em São Paulo, casou-se com a paulista Viviane da Rocha, 42 anos e tiveram 3 filhos, Júlia de 22 anos, Isaac de 17 anos e Ângelo de 8 anos. Para sustentar a família, Adailton trabalhava em um mercadinho, porém passou por momentos difíceis com a falência e consequentemente o fechamento do mercado. Para ele, a saída foi trabalhar como camelô na Marginal Tietê e assim fizeram, ele a esposa que, de imediato, abraçou a ideia.

”Quando o mercadinho fechou e eu passei um tempo parado, sem ter perceptiva de arrumar emprego e me surgiu uma ideia de trabalhar por conta própria. Eu não tinha mais de onde tirar recursos para sustentar minha família. Cheguei para minha esposa e falei: estou com uma ideia, quero saber se você me ajuda. Ela nem perguntou o que era que eu queria fazer e já falou: ‘estou junto, o que você fizer eu topo.’ Peguei o dinheiro que eu tinha, R$ 70 reais, comprei uma caixa de isopor, um pacote de coca-cola, um pacote de suco e um pacote de água e fui trabalhar na Marginal, eu e ela. De lá para cá, Deus foi nos abençoando e graças a Deus recebemos nossa vitória”, relembra.

O objetivo do casal não era apenas o sustento da família, também trabalhavam para juntar dinheiro para virem embora para Serra Talhada e conseguiram. Adailton organizou tudo para o regresso e em dezembro de 2009 realizou o sonho de voltar para casa, trazendo consigo a esposa e dois filhos, Júlia e Isaac, Ângelo só nascera em 2014, na Capital do Xaxado.

DIFICULDADES DE ADAPTAÇÃO

Em conversa com o Farol, o comerciante revelou que houve dificuldades da esposa se adaptar no Sertão, por uma sériE de questões, como a falta da mãe que havia ficado no Sul doente, no entanto, foram superadas ao ponto dela não querer mais voltar para São Paulo. A própria esposa também relevou ao Farol que São Paulo não tem mais nada a oferecer.

”São Paulo não tem mais nada a nos oferecer. Nesse intervalo de tempo, minha mãe veio para cá, morou um tempo aqui, depois veio definidamente e acabou seus dias aqui quando veio a falecer. Temos vivido aqui como nossos filhos e graças a Deus adquirido muitos amigos aqui. As pessoas são muito amistosas, acolhedoras e isso me encantou porque no Sul, em São Paulo, as pessoas não são acolhedoras, na correia acabam um por si e Deus por todos. Mas, aqui a gente ver um acolhimento legal e isso foi nos cativando aos poucos”, explicou Viviane.

DE CAMELÔ NO TIETÊ A DONO DE MERCADINHO EM SERRA TALHADA

O casal veio para Serra Talhada trazendo não só o bem mais preciso, os filhos, mas também grandes sonhos, assim como ainda têm até hoje. Um desses sonhos começou se concretizar no mês seguinte ao da chegada.

Em janeiro de 2010, abriram o Mercadinho Moura, conhecido como Mercadinho dos Pés de Paus, em frente a Lagoa Maria Timóteo, na esquina da Rua 9 do bairro Bom Jesus. Conquistaram muitos amigos, o estabelecimento tornou-se referência no bairro e não sofreu impactos devido à pandemia

”Por incrível que parece, nessa pandemia, foram os melhores anos que eu tive aqui. Por ser serviço essencial nós permanecemos abertos e vendemos bastante. Já sou bastante conhecido aqui, principalmente no Alto do Bom Jesus, devido essa movimentação que tem do pessoal subir e descer para a Feira Livre. Ao passarem em frente ao meu comércio, sempre param, descansam, conversam, toma uma água, um suco. Se tornou um ponto de encontro de amigos, um ponto de referência e seguimos batalhando até hoje”, comemora Adailton Moura.