A Mongólia impediu na sexta-feira (27) a decolagem de um avião militar turco após a suposta tentativa de sequestro de um professor ligado ao movimento Gülen, considerado terrorista pelo governo da Turquia.
De acordo com amigos e testemunhas, pelo menos cinco homens sequestraram Veysel Akcay na sexta-feira (27) à noite em sua residência em Ulan Bator e o obrigaram a entrar em um microônibus.
Akcay, de 50 anos, dirige uma escola na Mongólia e acredita-se estar relacionado com Fethullah Gulen, um pregador muçulmano exilado nos Estados Unidos e que é acusado pelo governo turco de estar por trás da tentativa de golpe de Estado na Turquia em julho de 2016. No entanto, vários professores que o conhecem negaram à AFP que ele tenha ligação com o pregador.
Os sequestradores o levaram para o Aeroporto Internacional Gengis-Khan de Ulan Bator, onde havia um pequeno avião. Segundo o site flightradar24.com, que rastreia a posição das aeronaves em tempo real, tratava-se de um dispositivo usado pela Força Aérea turca.
Durante oito horas, os alegados sequestradores negociaram com as autoridades da Mongólia, que finalmente impediram a decolagem do avião com Akcay dentro. Centenas de manifestantes e vários deputados foram ao aeroporto para pedir sua libertação.
Battsetseg Batmunkh, vice-ministro das Relações Exteriores da Mongólia, alertou as autoridades da embaixada turca que qualquer tentativa de sequestro seria “uma séria violação da independência e soberania do país”.
No entanto, o ministro das Relações Exteriores turco, Mevlüt Cavusoglu, negou as acusações de sequestro em um telefonema ao seu colega Tsogtbaatar Damdin, segundo informou o Ministério das Relações Exteriores da Mongólia.
O avião turco finalmente decolou às 09h25, mas sem Akcay, indicou no Twitter uma autoridade dos transportes mongol. Depois de ser interrogado pela polícia e submetido a exames médicos, Veysel Akcay reapareceu em público na manhã deste sábado deixando um hospital de Ulan Bator, limitando-se a dizer que não conhecia seus sequestradores.
A Mongólia, um país de grande extensão de três milhões de habitantes localizado entre a China e a Rússia, tem um dos poucos regimes democráticos da região.
O caso pode provocar uma crise diplomática entre os dois países e “envenenar uma relação bilateral muito ativa”, alertou Julian Dierkes, professor da Universidade da Columbia Britânica (Canadá).
Desde a tentativa fracassada de golpe, a Turquia, presidida por Recep Tayyip Erdogan, procura em todo o mundo por partidários de Fethullah Gülen. O movimento de Gülen, através de uma rede de instituições educacionais, aumentou sua influência tanto na Turquia quanto no exterior, especialmente na Ásia Central, na África e nos Bálcãs.
De acordo com a agência de notícias oficial turca Anatolia, mais de 1.600 pessoas foram condenadas à prisão perpétua por seu envolvimento no golpe, enquanto outros 77.000 suspeitos foram presos.
Nos últimos meses, os serviços secretos turcos realizaram várias operações para trazer para a Turquia alegados apoiantes de Gülen que vivem no exterior. Em abril, o governo turco disse que 80 pessoas foram presas em 18 países.