Em dois discursos após a confirmação da vitória na corrida presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) destacou diversas vezes que fará um governo democrático e que respeitará a Constituição Federal. A ênfase foi uma resposta às críticas que o presidente eleito vinha sofrendo devido a falas suas e de seus aliados que colocaram em questão instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em sua primeira fala após a vitória, uma transmissão ao vivo nas redes sociais, ele cercou-se de livros para ilustrar sua posição: a Constituição Federal, a Bíblia, um livro sobre Winston Churchill e outro de autoria do escritor conservador Olavo de Carvalho (“O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”). Nela, além de tratar do respeito a instituições democráticas, Bolsonaro também criticou a imprensa e os opositores – o que ele deixou de fora do discurso que fez na sequência às redes de televisão.
“Temos de conviver com a verdade. A verdade começa a valer dentro dos lares. O povo tem o direito de saber o que acontece no seu país. Graças a Deus esta verdade o povo entendeu completamente”, disse o capitão reformado do Exército nas suas redes sociais, acompanhado da mulher, Michelle.
“Alguém sem um grande partido, sem fundo partidário, com grande parte da grande mídia o tempo todo criticando, colocando-me muitas vezes próximo a uma situação vexatória”, disse, interrompido por falha de gravação do vídeo. “Não poderíamos mais continuar flertando com o socialismo, com o comunismo, com o populismo e com o extremismo da esquerda”, continuou.
Em seu discurso em rede nacional, mais longo (cerca de 10 minutos), elaborado e igualmente eivado de religiosidade (com agradecimentos múltiplos a Deus e àqueles que oraram por sua campanha), Bolsonaro não tratou de opositores. Preferiu repetir o compromisso de respeitar a Constituição e de fazer um governo democrático.
“Faço de vocês minhas testemunhas de que esse governo será um defensor da Constituição, da democracia e da liberdade. Isso é uma promessa, não de um partido. Não é a palavra vã de um homem. É um juramento a Deus. A verdade vai libertar este grande país”, disse, precedido pelo pastor evangélico Magno Malta, um dos maiores aliados de Bolsonaro e que não conseguiu se reeleger senador pelo Espírito Santo nesta eleição.
“Liberdade é um princípio fundamental. Liberdade de andar nas ruas. Liberdade de ir e vir em todos os lugares. Liberdade de empreender. Liberdade política e religiosa. Liberdade de informar e ter opinião. Liberdade de fazer escolhas e ser respeitado por elas. Este é um país de todos nós, brasileiros natos e de coração. Brasil de diversas opiniões, cores e orientações”, afirmou Bolsonaro, em tentativa de colocar panos quentes em tensões que cultivou com representantes de minorias ao longo dos anos.
“Não existem brasileiros do Norte nem brasileiros do Sul. Somos todos uma só nação. Uma nação democrática”, diria posteriormente. Em momento mais propositivo de sua fala, enveredou pela veia libera que o economista Paulo Guedes nele despertou mais recentemente e disse que pretende reduzir o Estado, em aceno ao mercado (que o elegeu seu candidato de preferência no segundo turno).
“O Governo Federal dará um passo atrás e vai reduzir sua estrutura e a burocracia, cortando desperdícios e privilégios, para que as pessoas possam dar muitos passos à frente. Nosso governo vai quebrar paradigmas. Vamos confiar nas pessoas. Vamos desburocratizar e permitir que o cidadão e o empreendedor tenha mais liberdade para construir seu futuro. Vamos desamarrar o Brasil”, disse.
O presidente eleito também destacou seu projeto de descentralização administrativa -“mais Brasil, menos Brasília”-, que, segundo ele, consistiria em deixar que municípios e estados tenham mais autonomia em decidir a destinação de recursos. Ele também prometeu acabar com o “círculo vicioso de crescimento da dívida”, substituindo-o por “círculo virtuoso de menores déficits, dívidas decrescentes e juros mais baixos”.
“Isso estimulará os investimentos, o crescimento, e gerará mais empregos”, completou, sem mais detalhes. Bolsonaro ainda tratou de política internacional. Crítico à política Sul-Sul de administrações anteriores, que aproximou o Brasil de países na África e na América Latina como alternativas políticas e econômicas às parcerias tradicionais com EUA e Europa, o presidente eleito disse que libertará o país “e o Itamaraty de relações comerciais com viés ideológico a que foram submetidos nos últimos anos.”
“Buscaremos relações bilaterais com países que possam agregar valor econômico e tecnológico aos produtos brasileiros. Recuperaremos o respeito nacional”, acrescentou. Ao ser perguntado sobre seu compromisso com o Estado democrático de Direito, Bolsonaro citou como exemplo Duque de Caxias, patrono do Exército brasileiro e chefe das forças brasileiras na Guerra do Paraguai. “Não sou Caxias, mas sigo o exemplo desse grande herói brasileiro. Vamos pacificar o Brasil e sob a Constituição e as leis vamos construir uma grande nação”, concluiu.
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