Do Diario de Pernambuco

A China lançou nesta terça-feira (23) uma sonda à Lua para coletar mostras de rochas lunares e retornar com estas à Terra, na primeira operação do tipo desde a que foi realizada pela ex-União Soviética em 1976.

Esta ambiciosa operação permitirá que o país asiático teste novas tecnologias, cruciais para enviar, como Pequim deseja, astronautas ao satélite natural da Terra em 2030.
O foguete “Longa Marcha 5” impulsionou “com sucesso” a sonda às 4h30 locais de terça-feira (17h30 de Brasília, segunda-feira) do centro espacial Wenchang, na ilha tropical de Hainan (sul), informou a agência espacial chinesa (CNSA).
A missão Chang’e 5, batizada em homenagem a uma deusa da lua na mitologia chinesa, representa a nova etapa do ambicioso programa espacial da China, que conseguiu no início de 2019 pousar uma espaçonave no lado oculto da lua, uma novidade mundial.
A sonda enviada desta vez foi projetada para coletar poeira e rochas lunares, escavando o solo a uma profundidade de dois metros.
Uma vez na Terra, estas mostras poderiam ajudar os cientistas a entender melhor a atividade vulcânica da Lua e, portanto, sua evolução e sua história.
“Os cientistas chineses e os de outros países terão a oportunidade de obter, para pesquisa, mostras lunares transportadas pelo Chang’e 5”, prometeu Pei Zhaoyu, diretor adjunto do organismo que coordena a exploração lunar na CNSA.
“Mas para a China os objetivos em termos de engenharia são, talvez, mais importantes”, completou.
De acordo com Chen Lan, analista para o site GoTaikonauts.com, especializado no programa espacial chinês, Pequim “deseja utilizar esta missão para ajustar as tecnologias necessárias em futuras missões lunares tripuladas”.
“É um passo a mais para ver os chineses na Lua”, completou.
“Bastante difícil”
Chang’e 5 é a primeira tentativa de trazer de volta rochas lunares desde 1976 e da missão não tripulada Luna 24, realizada com sucesso pela ex-União Soviética.
Estados Unidos também coletaram mostras durante a missão tripulada Apolo 17 (1972), mas diretamente recolhidas pelos astronautas.
A sonda Chang’e 5 enviada nesta terça-feira pela China pesa 8,2 toneladas. Compreende quatro partes: um orbitador (que permanecerá em órbita lunar), um módulo de pouso (que deve fazer a alunissagem no satélite), um módulo de ascensão (do solo até a órbita lunar) e uma cápsula de retorno (para a Terra).
A coleta das mostras acontecerá perto de Mons Rümker, um maciço montanhoso localizado a uma altura de mais de 1.000 metros na face visível da Lua.
Ao contrário do programa soviético, no qual a sonda executava diretamente o trajeto Lua-Terra depois de recolher as mostras, a China utilizará um método mais árduo.
As rochas serão colocadas primeiro no módulo de ascensão, que deverá alcançar a órbita lunar e depois acoplar-se ao orbitador, antes de ser transferidas à cápsula de retorno à Terra.
“Provavelmente a necessidade de afinar as tecnologias das missões tripuladas foi o que levou os engenheiros chineses a adotar um método tão complicado, ou inclusive inútil”, disse Chen Lan.
“Isto não foi feito antes e é, efetivamente, bastante difícil”, afirmou Jonathan McDowell, astrônomo do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos.
“Mas em caso de sucesso, o sistema chinês robotizado de retorno de mostras se transformará no mais flexível e eficaz”, destaca.
Retorno em dezembro
A sonda chinesa deve pousar na Lua no final de novembro. O retorno das amostras à Terra deve acontecer no começo ou em meados de dezembro.
Não é a primeira vez que a China lança uma espaçonave para a Lua no âmbito do programa Chang’e. O país já conseguiu pousar dois pequenos robôs teleguiados, os chamados “Coelhos de Jade”, em 2013 e 2019.
O lançamento do Chang’e 5 estava previsto inicialmente para 2017. Mas o fracasso de um voo no mesmo ano do foguete “Longa Marcha 5”, indispensável para a missão, provocou o adiamento.
A China está investindo bilhões em seu programa espacial para alcançar Europa, Rússia e Estados Unidos.
Em 2003 enviou seu primeiro astronauta ao espaço. Em 2022 espera montar uma grande estação espacial e também quer enviar homens à Lua dentro de dez anos.