Da CNN Brasil

A chuva de meteoritos registrada em agosto deste ano no município de Santa Filomena, no sertão pernambucano, atraiu a presença de diversos pesquisadores e colecionadores de objetos espaciais. Desde então, uma verdadeira busca pelas “pedras” foi iniciada. A pesquisadora Amanda Tosi, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi uma das “caçadoras” que esteve no local.

Amanda, que já tinha experiência em ir a campo em busca de meteoritos, classificou a experiência como especial: “Essa caça teve um sentimento porque a população local se envolveu e também encontramos caçadores de outras regiões do Brasil e do exterior. Foi um trabalho em conjunto mútuo e muito legal. Ensinamos as crianças a identificar os meteoritos em campo e elas realmente foram caçar. Algumas encontraram e ficaram muito felizes”, contou à CNN neste domingo (6).

O pesquisador da Divisão de Astrofísica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), José Williams dos Santos Vilas Boas, explicou que não há motivo específico para que a chuva de meteoritos tenha ocorrido no sertão de Pernambuco.

“É um fenômeno que pode acontecer em qualquer lugar mundo, ocorre de forma aleatória e não existe razão especial para que essas pedras caíam naquela região especificamente. Esse ano já foi notificado a ocorrência de meteoritos dessa natureza em outros locais, não é uma peculiaridade da região de Pernambuco.”

O que são meteoritos?

Vilas Boas resumiu os meteoritos como objetos celestes que caem na Terra — diferente de meteoros, que são os mesmos objetos queimando na atmosfera terrestre e, por isso, possuem um “brilho” visto a olho nu.

“Os meteoritos são pedras que vêm do espaço e caem na superfície da Terra, mas antes eles passam pela nossa atmosfera e [durante a queda] sofrem um processo de desgaste por causa da alta velocidade. Quando ele começa a se desgastar e queimar, cria aquele tubo de gás que produz o brilho que as pessoas chamam de meteoro”, detalhou.

O pesquisador ainda alertou que nem tudo o que parece meteoro é, de fato, um corpo celeste. “Podem ser também lixo espacial deixado pelos foguetes ou por satélites que ‘morreram’ – ao final de sua vida útil, eles voltam à nossa atmosfera e sofrem o mesmo processo dos meteoritos.”

‘Cidade mudou seu curso’

Flaviana Damaciano e seu filho, Luiz Fernando de Castro, são moradores de Santa Filomena e, por falta de hospedagem, receberam Amanda Tosi e sua equipe em casa. Luiz contou à CNN que sempre teve interesse por assuntos espaciais e já mantinha contato com pesquisadores profissionais.

“Desde pequeno sempre fui apaixonado e curioso para saber o que tinha lá fora. Tenho meu telescópio para fazer observações. Nunca tinha visto um meteorito pessoalmente, só pela internet e, para mim, foi uma felicidade enorme achar um”, compartilhou.

Flaviana lembra que no dia da chuva de meteoritos ouviu uma explosão no céu e, quando Luiz Fernando viu a primeira foto dos objetos, já sabia o que era. “Ele mandou [a imagem] para o pessoal que tem contato dessa área e, como a cidade é muito pequena e não tinha hospedagem, ofereci nossa casa para eles ficarem, foi uma euforia muito grande, no dia seguinte eles chegaram e a cidade mudou totalmente seu curso.”

Meteorito vale dinheiro?

Além de pesquisadores brasileiros e estrangeiros, Santa Filomena também recebeu pessoas interessadas em achar os meteoritos para fins comerciais.

À CNN, ambos pesquisadores afirmaram que sim, meteoritos valem dinheiro, mas depende de diversos fatores e não há um “preço” específico para pedras espaciais.

“Os meteoritos têm importância científica muito grande e, dependendo do tipo, os museus têm interesse em ter amostras. Muitas instituições estão dispostas a pagar um preço alto, mas não sei dizer quanto custaria.”

Amanda explicou que, no sertão pernambucano, o valor das pedras encontradas sofreu “variações”. “São muitas variáveis, além do tipo, tem o fator quantidade. Se tem um meteorito, todo mundo quer, mas se são vários o valor vai caindo. O tamanho também é um fator: em Santa Filomena, o menor deles foi negociado a R$ 40/grama. Mas achamos um de 38kg e ele não respeita esse valor por grama, ou seja, não valeu mais de R$ 1 milhão. Tem valor alto, mas não é linear, pois o preço sobre variações.”

(Edição: André Rigue)