Por Giovanni Sá, editor do Farol

Serra Talhada pode bater um recorde inédito nos próximos meses: de ultrapassar o número de homicídios do ano passado. Em 2015, foram 25 pessoas assassinadas na Capital do Xaxado. Vinte e cinco! Em maio de 2015, o homicídio de número 18 foi registrado no mês de agosto. Este ano, o ‘alvo’ 18 foi crivado de balas neste mês de maio. Na maioria dos casos, os assassinos não foram identificados pela policia, que parece ‘enxugar gelo’.

Meu objetivo nestas mal tecladas linhas não é procurar culpados ou apontar o dedo sobre a ineficiência das polícias diante a criminalidade. Muito pelo contrário. As polícias Civil e Militar encontram-se de pires nas mãos em Serra Talhada e estão em meio desta guerra lutando com o que têm. Ou seja, quase nada.

Busco tão somente chamar à atenção sobre o estágio que chegamos enquanto sociedade organizada. Não estamos limitados apenas a contar mortos, mas a classifica-los numa escala de horrores. Boa parte da opinião pública comemora os números da ‘olimpíada macabra’ com o discurso que ‘estão matando apenas as almas sebosas’. Ora, e como ficam os pais e mães dos que se foram?

A história em Serra Talhada vem sendo contada de forma inversa. Estamos acuados enquanto sociedade e falimos enquanto raça humana. Agora faz parte do show registrar para posterior postagem no WhatsApp a agonia de quem foi abatido a tiros. Uso de drogas e rede de intrigas motivam a maioria dos crimes de execução na cidade.

Falência da raça humana. Furtos e onda de assaltos fazem parte do cotidiano de uma cidade que vivia de manter as aparências. Isso não tem nada haver com a cultura do cangaço, que atrai turistas para Serra Talhada. Estamos no fundo do poço, porque fomos nós que cavamos o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. A riqueza não se distribuiu como deveria e, agora, só nos resta contar os mortos que se acumulam nesta contagem macabra.