Um dos sobreviventes da chacina ocorrida na noite de Réveillon em Campinas (a 93 km de São Paulo) acompanhou, na última segunda-feira (2), de cadeira de rodas e amparado por amigos, o enterro das 12 vítimas, marcado por forte clima de comoção. Sidnei Ramos de Araújo, 46, invadiu uma festa de Ano Novo e assassinou a ex-mulher, Isamara Filier, 41, o filho, João Victor, 8, e outras dez pessoas que estavam no local, matando-se em seguida.

Luiz João Batista, 58, perdeu uma filha, três irmãs, duas sobrinhas e a mãe na tragédia. Ele foi atingido por dois tiros: um de raspão no peito e outro na coxa. Foi levado para o Hospital das Clínicas da Unicamp e liberado na noite de domingo. “Foi um horror”, repetia Batista.

A vítima contou que conseguiu correr pela cozinha e pulou o muro da frente da casa, que dá para a rua. Na parede há manchas de sangue dele. Pouco tempo depois, começaram a chegar a polícia e o resgate de ambulâncias. Batista contou nunca ter relatos de agressividade do atirador. O mesmo diz o pai de Sidnei, Arnaldo Araújo, 74. “O Sidnei era um amor de pessoa. Não bebia, não fumava.

Nunca havia entrado em uma delegacia”, afirmou. Segundo uma professora de João Victor, contudo, o menino dizia não gostar do pai. Segundo ela, havia a orientação de que somente a mãe, detentora da guarda, poderia buscá-lo na escola. “Ele disse que ele não gostava do pai e que, quando crescesse, queria matá-lo”, afirmou.

A Polícia Civil busca o proprietário da arma usada no crime, uma pistola 9 mm, com numeração fortemente raspada. A principal suspeita é de que pertença a um ex-policial. Também foi apreendido pela polícia um gravador, em que o atirador deixou uma mensagem se desculpando sobre algo que iria acontecer, sem citar os homicídios.

Restrição

Na mesma gravação, ele criticou por diversas vezes a ex-mulher, com quem travava uma disputa na Justiça pela guarda do filho. Isamara registrou ao menos quatro boletins de ocorrência contra o ex-marido, por ameaças sofridas. As denúncias teriam sido feitas recentemente, quando o filho foi tirado do pai.

Nas redes sociais, diversas mulheres têm denunciado o feminicídio. Também numa rede social, a ex-presidente Dilma Rousseff afirmou que Isamara foi mais uma vítima do machismo e defendeu políticas de defesa das mulheres. Apesar dos registros, ela nunca representou contra o Sidnei, o que poderia ter garantido medidas protetivas como restrição de aproximação. O atirador ficaria impedido de se aproximar dela, sob o risco de ser preso, por exemplo.

Da Folha de Pernambuco