Foto: Farol de Noticias/Licca Lima

Publicado às 10h desta quinta-feira (2)

A celebração do Dia dos Finados se concentra no saudosismo e nas homenagens aos entes queridos que já não fazem mais parte deste plano. Mas, além dos túmulos, das velas, das flores e da saudade existe no cemitério uma gente viva que grita, sorri, bagunça e faz das despedidas e das ausências o seu ‘ganha-pão’.

FAROL conversou com alguns dos personagens que tem o Cemitério Público Municipal de Serra Talhada como a principal fonte de renda e quis saber sobre a experiência dessas pessoas neste lugar que socialmente é visto como ‘assustador’, ‘assombrado’ ou ‘triste’.

“Eu me sinto bem trabalhando aqui porque é daqui que eu tiro meu sustento. Durante esse tempo nunca vi nada aqui. E não tenho medo. O que recebo dá para me sustentar e sustentar ela [filha]. Pretendo muito tempo trabalhar aqui porque é meu ganha pão. Nós almoçamos, tomamos café, lanchamos, tudo aqui. Eu faço tudo, planto, pego cova para limpar”, explicou Maria das Graças Lima, 47, cuidadora de covas há 4 anos.

O COVEIRO E O ‘AMARELÃO’

O funcionário, Edvaldo Oliveira, 49 anos, trabalha no cemitério há quase 30 anos e faz parte de uma geração de coveiros em sua família. Ele herdou a profissão do pai e diz que se sente em casa no cemitério e que as únicas assombrações que existem são os vivos.

“Eu acho que nasci aqui dentro. Gosto mais daqui do que de casa. Essa é minha cidade e esse é meu povo. É o que gosto de fazer.  Há dois meses atrás, era  três horas da manhã e um cidadão bateu e disse: o senhor me arruma uma vela? Eu falei: vou ver se acho. Quando entreguei a vela ele saiu. Minha sorte é meu vigia, o “Amarelão”, brincou o coveiro.

Amarelão é um cão de rua, de cor caramelo e muito tranquilo, que vive entre os túmulos. Para Edivaldo, o cachorro é sua maior proteção. “Teve um dia que minha sorte foi ele. Quase deu um incêndio ali dentro. Não tinha energia e minhas lâmpadas eram as velas. Tinha uma coroa de flores e pegou fogo. Aí eu só ouvi os gritos dele [Amarelão]. Quando olhei a tocha de fogo. Ele foi quem salvou minha vida” contou Edivaldo.

Na véspera do dia dos Finados, as ruas do cemitério somem sob o trafego de baldes, cachorros, comida, carroças, gritos, risadas, reclamações de crianças, mulheres e homens. Gente que cuida, zela e faz companhia a quem já partiu. Gente que encontrou na morte um jeito de sobreviver.