Foto: OceanGate Expeditions/AFP
Por  Diário  de Pernambuco
À medida que o tempo passa, o suprimento de oxigênio a bordo do Titan começa a exaurir. O veículo submersível que leva cinco passageiros até os destroços do transatlântico Titanic, a 3.800m de profundidade, perdeu o contato com a superfície no último domingo (18/6). Às 14h desta terça-feira (20/6, no horário de Brasília), a Guarda Costeira dos Estados Unidos informou que o equipamento da companhia privada OceanGate teria reserva de ar suficiente para mais 40 horas — em tese, até as 6h desta quinta (22). As equipes de resgate dos EUA e do Canadá travavam uma corrida frenética em busca do Titan.
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O foco passou a ser uma operação subaquática. Uma área de 13 mil quilômetros quadrados foi rastreada “sem produzir qualquer resultado”, segundo Jamie Frederick, capitão da Guarda Costeira. Um avião P-3 canadense lançou boias de sonar na área do naufrágio do Titanic, a fim de tentar detectar qualquer som procedente do submersível de 6,7m de comprimento por 2,8m de largura e 2,5m de altura.
A Casa Branca anunciou que o presidente norte-americano, Joe Biden, “acompanha os eventos antentamente”. “Todos nós, incluindo o Presidente, expressamos nossos pensamentos à tripulação a bordo, bem como aos familiares, sem dúvida, preocupados em terra”, declarou o porta-voz John Kirby. O presidente da França, Emmanuel Macron, ordenou o envio do navio de pesquisa Atalante para reforçar as buscas no Atlântico Norte. A embarcação leva um robô subaquático que pode chegar a 4 mil metros de profundidade.
O drama em torno do paradeiro do Titan ganhou rosto e histórias. Os nomes dos cinco passageiros foram divulgados pela imprensa. Quatro deles pagaram US$ 250 mil (cerca de R$ 1,1 milhão) por uma vaga no submersível e pelo direito de descer até os restos do Titanic. São eles: o empresário britânico Hamish Harding, 58 anos; o especialista francês em mergulho e arqueologia Paul-Henri Nargeolet, 77; o bilionário paquistanês Shahzada Dawood, 48, e o filho Suleman, 19, ambos cidadãos britânicos. O CEO e fundador da OceanGate, Stockton Rush, 61, é a quinta pessoa a bordo.
“Esperando o melhor para meu bom amigo e colega explorador Hamish Harding e seus companheiros de tripulação a bordo do submersível, que estavam no Oceano Atlântico explorando o Titanic. Obrigado e gratidão pela tremenda operação de resgate em andamento agora”, escreveu no Twitter Terry Virts, astronauta e comandante da Estação Espacial Internacional (ISS). Por sua vez, o oceanógrafo David Gallo, amigo de Nargeolet, não descarta que o Titan tenha se implodido e despedaçado no meio do caminho. “Se eles não conseguiram chegar até o ponto do naufrágio do Titanic, isso significa que algo aconteceu no meio do percurso que os fez perder energia ou a comunicação de rádio”, advertiu.

Denúncia

Em 2018, um ex-funcionário da OceanGate alertou sobre “problemas de controle de qualidade e de segurança” no submersível. David Lochridge, então diretor de Operações Marítimas da companhia, discordou da posição de mergulhar o Titan sem que o veículo tivesse passado por um teste não destrutivo, o qual fosse capaz de provar sua integridade. De acordo com Lochridge, a única janela de visualização do submersível foi construída para suportar a uma pressão a uma profundidade de 1.300 — três vezes menos do que o ponto onde se encontra o Titanic. Em novembro passado, o Titan apresentou falhas de comunicação e ficou mais de duas horas e meia perdido no Oceano Atlântico.
Para o contra-almirante galês Chris Parry, especialista da Marinha britânica, as chances de encontrar os tripulantes vivos, a partir deste momento, são “extremamente baixas”. “Eles têm comida, água e roupas térmicas, além de reserva de oxigênio. Mas o abastecimento de eletricidade, provavelmente, é um problema”, admitiu ao Correio.
Com mais de três décadas de experiência na supervisão de missões de salvamento, Raymond Scott McCord — professor do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts — explicou ao Correio que será possível recuperar o Titan do fundo do mar, quando encontrado. “A Marinha dos EUA recuperou um caça F-35 de 12,4 mil pés de profundidade (3,77 mil metros), em março de 2022, e um helicóptero MH-60, a 19.075 pés de profundidade (5,8 mil metros)”, lembrou. “Dito isto, recuperar itens do oceano profundo é uma tarefa difícil e requer equipamentos específicos e pessoal experiente.”