O que se espera dos políticos brasileiros? Em minha opinião, honestidade. Pela TV assisto a um bolo fétido de escrotos tirando uma com a minha cara. Meu dinheiro. Minha paciência. Minha esperança. Por isso, a honestidade é o sabão do mundo. Vou acordar o Brasil.
_ Pois não?
_ Eu quero uma corda e…
_ Quantos metros?
_ Grande e forte. Que sirva para amarrar um porco.
_ …revólver, você tem?
_Posso ver.
_ Algemas, estilete, fita adesiva…
_ Alô, tenho uma informação…
Agora é só esperar. Um deputado sai cercado de gente. O revólver esquenta na cintura:
_ Deputado, sou seu fã. Vem aqui, cevado. Pra trás, todo mundo!
_ Só vou levar esse merda aqui.
_ Não, por favor!
_ Fecha o esgoto, filho da puta!
Joguei o deputado no carro. Parti desesperado. Aluguei um quarto próximo ao local do sequestro. Seqüestro? Não. Eu não sou seqüestrador! Sou um cidadão! Vou acordar o Brasil. Algemado no quarto o deputado começa a chorar:
_ Porco não chora, gritei.
_ Povo!
_ O quê?
_ Povo População Indignada da Silva.
_ O quê?
_ H-o-n-e-s-t-i-d-a-d-e!
_ Povo, vamos dar o que você deseja, mas primeiro liberte o refém.
_Refém? Aqui não há seqüestrador! Há um cidadão! Esse é o grande mal. Tudo é muito simples pra vocês, não é mesmo? Eu quero que os políticos desse país nos levem a sério.
_ Entendo, Povo. Mas a banda toca de outra forma. Não é seqüestrando, ameaçando…
_ Se existe solução faça brotar, amigão. Aí prometo que solto esse porco.
Não aguentei novamente. Com a boca entupida de fita adesiva, o deputado riu comigo.
_ Já estou cobrando: chora, filho da puta! Chora, miserável, gritei metendo o cano do revólver no focinho daquele bosta.
_ Vou acordar o Brasil! Está me ouvindo?
_ Vamos ser obrigados a invadir, disse o policial.
_ Eu estouro a cabeça dele! Eu estouro a cabeça dele!
_ Já avisou a imprensa do que eu quero?
_ Já.
_ E o que é?
_ Honestidade!
Pela fresta da janela via os jornalistas frente às câmeras. O país sabia. O país estava comigo.
_ Sou fruto do escárnio parlamentar, fruto da indiferença, gritei melancólico.
_ Tenha calma. Somos todos, respondeu o policial.
Comecei a chorar copiosamente. Aos prantos, desabei ao lado do deputado. Ele ficou atônito com a minha reação. Parecia entender. Enxugava as lágrimas na manga da camisa quando senti um silêncio aterrador. Previ a invasão.
Rapidamente arranquei o revólver da cintura, mirei no deputado… Até eles invadirem violentamente o quarto e me transformarem em alimento de piranhas metálicas. Tentando acordar o Brasil, fechei meus olhos para sempre.
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