Do G1

Depois dos EUA e Brasil, Índia é o 3º país a bater 1 milhão de casosA Índia ultrapassou nesta sexta-feira (17) o marco de 1 milhão de casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus. O segundo país mais populoso do planeta, com 1,3 bilhão de habitantes, registra uma aceleração no número de casos de Covid-19 pouco mais de um mês após o fim de um rigoroso confinamento que durou 70 dias.

Embora o confinamento tenha conseguido conter a velocidade da expansão do novo coronavírus, a curva epidemiológica continuou a aumentar e o salto no número de casos acontece em um momento em que as autoridades locais impõem novas medidas de confinamento para tentar conter a pandemia.

Terceiro país do mundo em número de infecções registradas, atrás dos Estados Unidos e do Brasil, o gigante asiático registrou até esta sexta-feira mais de 25,6 mil mortes desde o início da pandemia, apontam dados oficiais publicados pelo Ministério da Saúde.

Nas últimas 24 horas, a Índia registrou cerca de 35 mil casos e 700 mortes atribuídas ao vírus, de acordo com a agência de notícias France Presse.

O número de óbitos por Covid-19 na Índia permanece relativamente baixo em comparação aos países mais afetados, com 18 mortes por milhão de habitantes. Nos EUA, o país mais devastado pela pandemia, são 417 por milhão de habitantes, conforme cálculos da AFP com base em dados oficiais. Especialistas chamam a atenção para o elevado índice de subnotificação. (Leia mais abaixo)

Por iniciativa dos governos regionais, nas últimas semanas foram ordenadas medidas de reconfinamento e restrições sanitárias em todo país, de 1,3 bilhão de habitantes.

Os 125 milhões de habitantes do estado de Bihar (norte) foram reconfinados na quinta-feira à meia-noite, no dia seguinte à aplicação de uma medida semelhante aos 13 milhões de habitantes da aglomeração de Bangalore (sul).

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Cinco pontos importantes sobre a pandemia na Índia

1. Confinamento começou cedo e foi rigoroso

O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, decretou o confinamento em 24 de março, quando o país registrava pouco mais de 500 casos de infecção pelo novo coronavírus e 10 mortes. Inicialmente, iria durar 21 dias, mas foi prorrogado até 31 de maio.

As autoridades entenderam que, com uma população de 1,3 bilhão e cidades densamente povoadas, o alastramento rápido da doença poderia tomar uma dimensão catastrófica.

Com o isolamento, a população mais pobre sofreu por não poder trabalhar e garantir o dinheiro para a alimentação. Quase 90% dos trabalhadores do país estão no setor informal, sem salário mínimo ou mesmo direitos trabalhistas.

A rigidez no confinamento achatou a curva epidêmica. Porém, ainda assim, em 31 de maio, último dia antes do início da flexibilização, o país já registrava 5,4 mil mortes e 190 mil casos de infecção pelo novo coronavírus, de acordo com a universidade americana Jonhs Hopkins.

2. Como está sendo a reabertura?

Pessoas fazem compras de última hora em Bangalore, na Índia, na terça-feira (14), antes de novo lockdown na região para evitar propagação do novo coronavírus — Foto: Manjunath Kiran / AFP

A partir de 1º de junho, o governou permitiu a reativação da maior parte do transporte público, de escritórios e de shoppings centers. O espaço aéreo indiano permaneceu fechado para as companhias aéreas comerciais estrangeiras. Os serviços de trem e voos domésticos estão sendo retomados. A atividade do consumidor voltou a níveis pré-pandêmicos.

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Apesar da retomada gradual, os casos de coronavírus aumentaram rapidamente principalmente nas grandes cidades como Mumbai, Nova Déli e Madras.

Autoridades locais têm tomado medidas para reduzir a circulação, como aconteceu em Bihar (no norte) e na região de Bangalore (sul). O uso de máscara é obrigatório nos espaços públicos, nos transportes e no trabalho. Em geral, a medida é respeitada nas grandes cidades, mas muitos indianos usam a proteção de maneira incorretas.

3. Mortalidade é baixa, mas especialistas falam em subnotificação

O Ministério da Saúde da Índia declarou no início de julho que estava indo “relativamente bem” no gerenciamento da pandemia, destacando que o país tinha um número de mortes por milhão de pessoas muito menor do que os Estados Unidos e o Brasil.

No entanto, maioria das regiões da Índia não há mecanismo para registro de qualquer tipo de morte, o que eleva o risco de uma subnotificação elevada. Jayaprakash Muliyil, epidemiologista da Christian Medical College em Vellore, que assessora o governo indiano, afirmou à Associated Press que conhecer o número real de vítimas na Índia é “absolutamente impossível”.

Dados oficiais mostram que 43% das pessoas que morreram de Covid-19 tinham entre 30 e 60 anos apesar de pesquisas em todo o mundo indicarem que a doença é particularmente fatal para os idosos. Na avaliação de Muliyil, o dado sugere que muitas mortes entre os indianos mais velhos não estejam sendo relacionadas com a pandemia.

4. Estrutura de saúde deficitária

A saúde pública na Índia é gerenciada na esfera estadual, o que faz com que alguns estados se saiam melhor do que outros.

O estado de Kerala (sul), onde foram notificados os três primeiros casos de vírus no país, foi visto como modelo, pois conseguiu isolar pacientes precocemente, rastrear e colocar em quarentena os contatos, além de colocar em prática uma política de testes agressivos.

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Já a Déli, onde fica a capital, recebeu duras críticas por não ter atuado na prevenção dos casos quando os bloqueios ainda eram mais fáceis de serem colocados em prática. Sem atendimento médicos, doentes morreram em casa.

A crise levou o Ministério do Interior a intervir e disponibilizar 500 vagões ferroviários como enfermarias improvisadas para os hospitais. Em julho, Mumbai abriu quatro novos hospitais de campanha.

Apesar da corrida para disponibilizar novos leitos, as autoridades admitem estar preocupadas com a falta de profissionais de saúde treinados e experientes.

5. Qual é a contribuição da Índia no combate à pandemia?

A Índia produz cerca de 1 mil respiradores e cerca de 600 mil kits de equipamentos de proteção individual por dia, de acordo com o instituto de pesquisas do governo Niti Aayog. O país é o segundo maior fabricante de kits do mundo, ficando atrás apenas da China.

Atualmente, a Índia possui sete vacinas contra a Covid-19 em vários estágios de testes clínicos. O Conselho Indiano de Pesquisa Médica prometeu que uma delas, desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech, terá resultados de testes com seres humanos até 15 de agosto.

Mesmo que a vacina não seja desenvolvida em seu território, o país desempenhará certamente um importante papel na produção já que possui o maior fabricante de vacinas do mundo, o Serum Institute of India, na cidade de Pune, de acordo com a Associated Press.