Da CNN Brasil

Foto: Reprodução Reuters

Duas pessoas morreram durante protestos em Mianmar neste sábado (20), em atos contra o golpe militar. Uma das vítimas foi baleada na cabeça.

Ela é a segunda pessoa a morrer com um tiro na cabeça em meio às manifestações. O projétil teria sido disparado pela polícia durante a ação de dispersão dos manifestante.

Na sexta-feira (19), uma jovem manifestante foi a primeira vítima fatal dos protesto, após levar um tiro no rosto enquanto a polícia dispersava uma multidão na capital, Naypyitaw – ação semelhante a que culminou na morte do homem neste sábado.

Neste sábado, jovens marcharam pelas ruas da principal cidade de Yangon carregando uma coroa de flores que foi depositada no túmulo da jovem Mya Thwate Thwate Khaing – a manifestante que levou um tiro na cabeça. Um ato simbólico semelhante ocorreu em Naypyitaw.

“A tristeza de sua morte é uma coisa muito grande, mas também nos dá coragem de continuar por ela”, disse o estudante protestante Khin Maw Maw Oo, na cerimônia de Naypyitaw.

Milhares de manifestantes voltaram às ruas de Mianmar neste sábado para protestar contra o golpe militar ocorrido no dia 1º de fevereiro no país.

No protesto de hoje, os opositores ao golpe contam com o apoio membros de minorias étnicas, poetas e trabalhadores do setor de transportes, para pedir pelo fim do regime militar e pela libertação da líder eleita Aung San Suu Kyi e outros.

Os protestos contra o golpe que derrubou o governo da veterana ativista pela democracia Suu Kyi não deram sinais de diminuição. Os manifestantes são céticos quanto à promessa dos militares de realizar uma nova eleição e entregar o poder ao vencedor.

O exército afirma que um policial também morreu devido aos ferimentos sofridos em um protesto.

Os Estados Unidos condenaram o uso da força contra os manifestantes, disse o porta-voz do Departamento de Estado.

Demandas dos manifestantes

Os manifestantes exigem a restauração do governo eleito, a libertação de Suu Kyi e outros presos políticps e a revogação da Constituição de 2008, elaborada sob supervisão militar, que dá ao exército um papel importante na política.

Para membros de minorias étnicas, a unidade dentro de um sistema federal também é uma exigência importante.

“Os militares governam com regras que dividem os grupos étnicos. Não podemos permitir que isso aconteça novamente”, disse Naw Eh Htoo Haw, membro da minoria Karen.

As insurgências de forças de minorias étnicas em busca de autonomia fervilharam desde a independência de Mianmar da Grã-Bretanha em 1948, e o exército há muito tempo se proclama a única instituição capaz de preservar a unidade nacional..
“Fiquem Juntos”

O exército retomou o poder após alegar fraude nas eleições de 8 de novembro de 2020, que a Liga Nacional pela Democracia, da presidente Suu Kyi, venceu com vantagem.

Os militares prenderam Suu Kyi e outras pessoas. A comissão eleitoral indeferiu as denúncias de fraude.

Os protestos, que ocorrem desde o início de fevereiro, têm mais pacíficos do que as manifestações reprimidas de forma sngrenta duranta os quase 50 anos de regime militar – que durou até 2011.

Milhares de manifestantes se reuniram na cidade de Myitkyina no sábado e enfrentaram a polícia antes de se dispersarem. A polícia e os soldados usaram cassetetes e balas de borracha para dispersar as multidões na cidade.

As multidões marcharam novamente pela antiga capital de Bagan e em Pathein. Além dos protestos, uma campanha de desobediência civil paralisou muitos negócios do governo.

Os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá e Nova Zelândia anunciaram sanções limitadas, com foco em líderes militares, incluindo proibições de viagens e congelamento de ativos.

O Japão e a Índia juntaram-se aos países ocidentais no apelo à restauração da democracia. O embaixador do Japão, Ichiro Maruyama, em conversa com os manifestantes fora de sua embaixada, pediu a libertação de Suu Kyi e apelou ao exército para resolver as coisas pacificamente.

Há pouca história de generais de Mianmar cedendo à pressão estrangeira. Eles têm laços mais estreitos com a China e a Rússia, que adotaram uma abordagem mais suave do que os países ocidentais.

O líder da Junta, Min Aung Hlaing, já estava sob sanções dos países ocidentais após a repressão aos Rohingya.

Suu Kyi enfrenta uma acusação de violação de uma Lei de Gestão de Desastres Naturais, bem como de importação ilegal de seis rádios walkie-talkie. Sua próxima audiência no tribunal será em 1º de março.

A Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos de Mianmar disse que 546 pessoas foram detidas, das quais 46 foram libertadas, até sexta-feira.