Do Jornal do Brasil

Moradores da Ocupação Povo Sem Medo, em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo, iniciaram nesta terça-feira (31) uma passeata em protesto pela desapropriação do terreno onde estão.

A manifestação vem depois da proibição do show de Caetano Veloso no dia anterior, no qual o cantor afirmou ser a primeira vez que foi “impedido de cantar no período democrático”.

O motivo da não realização do espetáculo foi a decisão da juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara da Fazenda Pública de São Bernardo. Segundo ela, o local não possuíam a “estrutura a suportar show, mormente para artistas da envergadura de Caetano Veloso”.

Caetano deixou clara sua insatisfação com a proibição, apesar de dizer não ser “técnico” em questões legais. “Dá a impressão de que não é um ambiente propriamente democrático”, declarou o compositor ao sair da ocupação. “É a primeira vez que sou impedido de cantar no período democrático”, disse também. Para o cantor, “uma área urbana não pode ficar sem função social”.

Com a proibição judicial, os artistas que foram à ocupação participaram de um ato em um pequeno palanque, em uma área mais elevada, perto do barraco da coordenação. Passaram o dia no local as atrizes Sônia Braga, Letícia Sabatella, e Alinne Moraes, além da cineasta e apresentadora Marina Person. Elas também foram à prefeitura e ao Ministério Público tentar a liberação do show.

“A luta de vocês é completamente legítima. E ela tem de continuar”, disse Marina. “Vocês são exemplo para nós”, afirmou Letícia, falando em “esperança, alegria, riqueza, cultura”. “Muito obrigado por nos ensinarem.”

O coordenador do MTST, Guilherme Boulos, afirmou que a Justiça deveria se preocupar em “pegar a quadrilha que está no poder no Brasil”, em vez de proibir uma apresentação musical.

“Hoje aqui em São Bernardo mais uma vez a Constituição brasileira foi rasgada. É um absurdo, é censura, é ilegal. Para muita gente dentro do Judiciário o preconceito vale mais do que a lei. Se eles queriam nos provocar para uma ação violenta não conseguiram. Isso nos dá energia, nos dá ânimo”, afirmou. E complementou que a “resposta” do movimento seria dada nesta terça, com “uma das maiores marchas dos últimos anos”. A manifestação estava planejada antes do show proibido.

O grupo saiu do entorno da rodovia Anchieta por volta das 7h nesta terça, e anunciou que vai marchar até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, na Zona Sul da capital. A previsão é de chegar no destino no início da tarde.

Os manifestantes querem cobrar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) a desapropriação de um terreno ocupado por eles na rua João Augusto de Sousa, no bairro Assunção, em São Bernardo. Eles querem que sejam construídas moradias populares no local.