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Fotos: Farol de Notícias/Alejandro García

Uma lojinha chama a atenção de quem passa na Rua Padre Ferraz, no centro de Serra Talhada. Em meio ao comércio de confecção, lanchonetes e lojas de eletroeletrônicos, um comerciante resiste no mesmo ramo há cerca de 40 anos, vendendo peças de couro cru.

A loja só abre às segundas-feiras por cerca de 4 horas, tempo suficiente para espalhar couros de bode e boi para a região e cidades dos estados do Ceará, Bahia e Pernambuco. O dono do negócio é Zacarias Alves da Costa, 80 anos, que por motivos de doença, não conversou com a reportagem do FAROL.

“Quem está à frente é o meu pai, Zacarias Alves da Costa, ele começou por falta de material, porque fazia sela, arreios, enfim; por falta de material resolveu curtir a sola. Depois abandonou a fabricação de arreios e ficou curtindo o couro e vendendo para o pessoal de artesanato. Daqui sai couro para Petrolina, Bahia Ceará, e outro lugares”, revelou Wilson Alves da Costa (Foto), 47 anos, um dos 5 filhos de ‘seu Zacarias’. Aliás, foi no ramo de couros que ele (Zacarias) sustentou e criou os filhos.

“Não dá para enricar, mas arruma a feira. Nós (filhos) debandamos para fazer outras coisas, e ele (Zacarias) ficou no ramo dele. Agora, ele está doente e estou assumindo para não deixar parar. Eu compro o couro e levo para o curtume porque é ele quem trabalha”, disse Wilson Costa, afirmando que são vendidos, por mês, cerca de 120 bandas de couro em Serra Talhada e 200 bandas para outros estados. Em média, ‘seu’  Zacarias fatura cerca de R$ 5 mil por mês.

Apesar de manter a tradição, Wilson Costa não esconde a tristeza por estar com o pai hospitalizado em Recife. “Crescemos vendo ele trabalhando nisso. A gente fica triste porque está chegando praticamente no fim, meu pai está doente… 80 anos, e não sei até quando vai resistir esta atividade. Outras pessoas devem seguir… não sei se será eu”.

CONTABILIDADE

Quem entra no ‘espaço do couro’ visualiza uma parede riscada com adições e subtrações matemáticas. Segundo Wilson Costa, esta foi a forma do seu pai acompanhar quem compra fiado. Uma espécie de ‘caderneta pública’ de compra e venda. “Isso ai só ele (Zacarias) que entende, mais ninguém. São pessoas que compram e pagam depois, e, então, a medida que vai abatendo o débito ele vai riscando na própria parede”, esclareceu o filho, com um sorriso no rosto.

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Transparência: O fiado é anotado na própria parede

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