Foto: Richard Pierrin /AFP
Por Folha de Pernambuco
Em carros lotados, motos ou a pé, mais de 3.100 pessoas fugiram nessa terça-feira (15) do bairro de Carrefour-Feuilles, nos arredores de Porto Príncipe, capital do Haiti hoje 80% controlada por gangues. Os criminosos saquearam e incendiaram várias residências do bairro, o que provocou muitas mortes. Fontes do governo acreditam que o número aumentará nos próximos dias.
O local é atacado com frequência por uma gangue liderada por Renel Destina, conhecido como Ti Lapli, procurado pela justiça dos Estados Unidos por sequestro de cidadãos americanos. Na segunda-feira, os moradores protestaram contra a falta de segurança.
Estamos vivendo uma situação extremamente difícil explicou à AFP Elie Derisca, um dos que deixou às pressas suas casa. Os policiais que moram na área não têm mais recursos para nos defender. Os bandidos conseguiram assumir o controle das nossas casas. Nem sei para onde ir.
A polícia haitiana prometeu, em um comunicado, combater as gangues. Mas o caos nas ruas de Carrefour-Feuilles era visível na terça-feira. Alguns moradores carregavam malas, outros empilhavam colchões e móveis em seus carros. Elas buscaram refúgio em praças públicas e dentro de escolas públicas em bairros considerados mais seguros.
A grave crise política e de segurança no Haiti, dois anos após o magnicídio do presidente Jovenel Moïse, tornou ataques armados cada vez mais frequentes. Nos últimos seis meses, 400 foram mortas no país, segundo um relatório da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos do Haiti (RNDDH). Além dos assassinatos, as gangues promovem estupros coletivos e sequestros. O documento destaca ainda que mais de 50 regiões conhecidas antigamente pela tranquilidade sofreram ataques este ano.
O aumento da violência, saques, bloqueios de estradas e a onipresença de grupos armados são alguns dos problemas que prejudicam gravemente os esforços humanitários, dificultando o auxílio às comunidades afetadas. O sistema de saúde do país está à beira do colapso, escolas sob ataque e civis sob constante terror.
Além da grave crise humanitária, de segurança e econômica, o país também vive um impasse político, sem realizar eleições desde 2016. O atual primeiro-ministro Ariel Henry, nomeado apenas 48 horas antes de Moïse ser assassinado, enfrenta dúvidas sobre sua legitimidade e suspeitas de que possa estar diretamente envolvido no crime. Sem reconhecimento interno, ele vem pedindo uma intervenção internacional há quase um ano, mas nenhum país parece disposto a comandar a operação.
A intensificação da crise é acompanhada de um preocupante ressurgimento de casos de cólera.