NOTA DE REPÚDIO

Os Movimentos de Mulheres e Coletivos de Serra Talhada vem a público manifestar repúdio ao título jornalístico da matéria veiculada no jornal eletrônico “Farol de Notícias”; sobre o terrível caso de estupro sofrido por uma adolescente de 16 anos, neste último fim de semana, na cidade Serra Talhada.

O título leva o leitor a interpretar que a embriaguez da jovem é uma espécie de justificativa para o crime cometido contra ela. Este tipo de mecanismo narrativo é desumano e mostra que ainda há muito a ser desconstruído dentro da imprensa local, principalmente em relação à abordagem jornalística de temas tão delicados como os das diversas violências sofridas diariamente por mulheres.

Não há justificativa para estupro, defender este tipo de lógica é fortalecer ainda mais o discurso misógino de que a culpa sempre é da mulher. É necessário, uma reestruturação do pensamento e da construção da narrativa jornalística.

É preciso que a imprensa entenda seu papel e não trabalhe para reforçar estigmas e levar mais julgamento, além de naturalizar através do discurso as injustiças, violências e os sofrimentos que destroem a vida/vivência das vítimas. Aproveitamos o espaço para cobrar das forças policiais que reforcem as investigações e punições dos crimes de violência sexual contra mulheres, crianças e adolescentes em Serra Talhada.

 

Movimento de Mulheres Negras de Serra Talhada – Coletivo Fuáh

Movimento Sem Terra – MST

Movimento da Mulher Trabalhadora Rural – MMTR-PE

Sindicato dos Trabalhadores Rurais – STTR

Fundação Social de Mulheres Renovada do bairro Vila Bela e Adjacência

Comissão da OAB de Combate à Violência Contra a Mulher

Fundação Cultural Cabras de Lampião – FCCL

NOTA DOS EDITORES

A violência sexual nunca é justificável, e nunca será da vítima. A cultura do estupro no Brasil é uma doença moral que age na surdina, corroendo a vida de mulheres e crianças mundo a fora dentro de suas casas e nas ruas, nos perigos que a insegurança e o despreparo de profissionais. É um mal que conta, inclusive, com a legitimação de instituições que deveriam coibir e criminalizar atos de violência sexual.
Em Serra Talhada há pelo menos uma década é pensada a violência contra a mulher a partir de equipamentos sociais, com a força e o estímulo político. O debate sobre a Delegacia da Mulher para a cidade já foi levado para diversas instâncias e ainda sem sucesso da instauração do espaço apropriado para proteger as serra-talhadenses da violência.

O Farol há 11 anos conta essas histórias. As vitórias da militância em prol dos direitos das mulheres, as ações realizadas, a criação da Secretaria da Mulher, a formação de profissionais, a chegada das Patrulhas da Mulher, inúmeras prisões pela Lei Maria da Penha. Assim como também relatamos muitos casos de violência. Muitas mulheres que morreram vítimas do machismo, da violência de gênero e muitos casos de estupro de mulheres e de vulneráveis, importunação sexual e abusos dos mais graves possíveis.
A equipe do Farol de Notícias lamenta e se desculpa com a jovem de 16 anos vítima de violência sexual no último final de semana pela maneira que divulgou a informação. A intenção primeira era alertar a cidade para o crime, sempre instigamos as polícias Civil e Militar pela defesa e proteção das vítimas, como sempre primamos.

Mesmo que em alguns momentos esses canais passem por ruídos de comunicação temos a consciência do poder de formação de opinião que este veículo tem diante da população serra-talhadense, por isso oportunizamos neste editorial para reafirmar que nenhuma vítima pode ser responsabilizada, recriminada ou julgada pela violência que sofreu. O corpo feminino não é propriedade de ninguém além da própria mulher e, em hipótese alguma, outro indivíduo deve se sentir no direito sobre essa mulher e/ou vulnerável. Seguiremos trabalhando para que toda forma de violência seja devidamente julgada e punida perante a Lei. Seguiremos aprendendo diariamente com nossos leitores e colaboradores.