Do Diario de PE

Encurralada, a primeira-ministra britânica, Liz Truss, finalmente renunciou nesta quinta-feira (20), depois de apenas seis semanas no poder com um programa econômico radical que causou uma crise política e financeira nacional.

“Dada a situação, não posso cumprir o mandato para o qual fui eleita pelo Partido Conservador. Falei, portanto, com Sua Majestade o Rei para notificá-lo de que estou renunciando”, declarou a líder de 47 anos em frente a Downing Street, em um discurso muito curto.

Uma votação para determinar seu sucessor dentro do Partido Conservador ocorrerá “na próxima semana”, acrescentou a líder conservadora, que, desta forma, torna-se o chefe de governo a ter permanecido por menos tempo em Downing Street na história moderna britânica, com apenas 44 dias de mandato.

Hoje cedo, ela ainda parecia aferrar-se ao poder, com seu porta-voz garantindo que ela estava “trabalhando” com seu ministro das Finanças, Jeremy Hunt, para preparar seu plano econômico de médio prazo, após uma quarta-feira catastrófica para ela.

Ao final da manhã, porém, reuniu-se com o deputado à frente do poderoso Comitê 1922, encarregado da organização interna do Partido Conservador – e, portanto, de um possível procedimento de substituição.

O novo primeiro-ministro britânico será nomeado até sexta-feira, 28 de outubro, pelo Partido Conservador no poder, anunciou o parlamentar Graham Brady, após a renúncia de Liz.

“Será possível (…) concluir uma eleição até sexta-feira, 28 de outubro”, disse Brady a repórteres.

O processo de escolha de Truss por cerca de 170.000 membros do partido no poder levou dois meses após a saída de Boris Johnson.

Logo após o anúncio de renúncia de Liz, o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, exigiu eleições imediatas.

“Os conservadores não podem responder à sua última confusão simplesmente estalando os dedos e mudando os que estão no topo sem o consentimento do povo britânico. Precisamos de eleições gerais (…) agora”, declarou, em um comunicado.

Nas últimas horas, o número de parlamentares reclamando sua saída não parou de aumentar.

“Liz Truss deve partir o mais rápido possível”, declarou o ex-ministro conservador David Frost, em uma coluna no “Daily Telegraph”.

Mais impopular do que nunca entre a opinião pública, sem um programa econômico após a humilhante renúncia aos cortes de impostos e ficando sem dois de seus ministros mais importantes, Liz Truss estava por um fio.

Em meio à crise econômica do custo de vida, com milhões de britânicos sofrendo com a inflação, o Partido Conservador relança agora uma eleição interna para encontrar um novo líder – o quinto em seis anos.

Truss foi eleita neste verão boreal, após a renúncia de Boris Johnson, em meio a uma série de escândalos em Downing Street.

Há dias circulam vários nomes para a sucessão de Liz Truss, como os de Rishi Sunak, Jeremy Hunt, Penny Mordaunt – a ministra responsável pelas relações com o Parlamento – ou ainda Boris Johnson.

Eleições gerais

Os conservadores decidiram evitar eleições legislativas antecipadas, que dariam vantagem à oposição trabalhista.

“Eles falham em seu dever patriótico básico de deixar os britânicos fora de suas disputas patéticas”, atacou o líder trabalhista na manhã desta quinta-feira, em um discurso no Congresso Sindical (TUC), em um momento em que muitos movimentos sociais agitam o país em razão da crise econômica.

Para Liz Truss, a quarta-feira virou melodrama. Menos de uma semana após a saída de seu ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, substituído por Jeremy Hunt, o novo homem forte do governo, foi a ministra do Interior, de extrema direita, Suella Braverman, que deixou o governo, devido a crescentes diferenças sobre imigração, de acordo com os jornais britânicos.

Ela foi substituída por Grant Shapps, ex-ministro dos Transportes de Boris Johnson, no que deveria ser um gesto de abertura em relação aos ex-adversários de Liz Truss na corrida por Downing Street. Shapps apoiou Rishi Sunak.

A noite foi agitada no Parlamento, onde uma votação – vencida pelo governo – sobre o levantamento da moratória sobre faturamento hidráulico se transformou em um levante entre os conservadores.

Os deputados da maioria se recusaram a votar com o governo, apesar das represálias a que se expõem, tendo Downing Street pedido expressamente para se respeitar a instrução de voto.