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Fotos: Farol de Notícias / Manu Silva

Durante a 225ª Festa de Setembro a redação do FAROL recebeu a visita de três garotos que estão movimentando o cenário do hard core serratalhadense, a Doppamina, que se apresentou no dia 2 de setembro, no palco Cultura Viva. O show reuniu roqueiros de todas as idades na praça Sérgio Magalhães.

Em uma super entrevista, os irmãos Mateus Bezerra (guitarra e vocal) e Paulinho Bezerra (bateria), junto com o amigo de adolescência Kacike Cândido (baixo e vocal) revelaram para nós a história da banda, os planos para a gravação do primeiro álbum e a vida de músico serratalhadense. Confira a entrevista na íntegra e veja vídeos de apresentações da banda!

ENTREVISTA COM A BANDA DOPPAMINA

FAROL: Bom dia, pessoal da Doppamina. É um prazer para nós recebê-los para essa entrevista e gostaríamos de começar sabendo sobre o tempo que vocês ficaram sem se apresentar em Serra Talhada?

MATEUS: Primeiramente, muito obrigada pelo convite. Eu acho que a Doppamina passou um tempo sem tocar porque não tiveram eventos que abarcassem o nosso gênero, sobretudo na cidade. Fora apareceram alguns eventos, só que não nos foi feito convite. Muito embora, não há muito incentivo da prefeitura para esse gênero, o rock e o alternativo como um todo. Não só rock, mas mpb etc.

PAULO: Esse ano Mateus colou grau, eu e Kacike também acabamos de nos formar. Todo mundo sabe que esse período é complexo, tem a escrita e a pesquisa da monografia. Então, esse foi um fator preponderante para que a gente ficasse nesse hiato.

FAROL: Paulinho, você faz parte da banda Us’AST de Tua Lábia and the Honoris Causa como baterista também. Como é de fazer parte de uma banda um pouco diferente da ‘Doppa’, mas com outra roupagem, professores universitários. Como é a experiência?

PAULO: Quando surgiu o convite para tocar na Us’AST, há dois anos atrás foi o Carlos baixista que me convidou e quando eu cheguei a galera estava bem no começo ainda, a bateria era aluga da e era o começo de tudo mesmo. Essa questão de tocar com caras mais velhos, o Tony (guitarra e vocal) já participou de várias banda lá em Recife, bandas que ganharam expressão na cena recifense. O Caio também tocou e toca ainda em alguns projetos paralelos com a galera dele do Recife. Tocar com eles é um grande aprendizado, eu tenho que estudar sempre e isso me faz crescer como músico.

FAROL: Kacike, você também é produtor e organiza há alguns anos o Cangaço Rock Fest. Como está a produção para edição 2015 e já tem data para acontecer?

KACIKE: Vai rolar sim, como todo ano tem que acontecer. As preparações devido a universidade estava meio devagar esse ano. O ano passado foi em agosto, esse ano será em outubro, não temos uma data certa, mas será no mês de outubro. Em breve estamos lançando a programação, as datas. Já temos algumas bandas programadas, algumas de fora, da região e outras daqui de Serra mesmo.

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FAROL: Mateus, no intervalo que vocês deram na Doppamina, você começou uma carreira paralela tocando em alguns bares da cidade. Porque ingressar pelos caminhos da música de barzinho?

MATEUS: Quem vai ao show da Doppamina sabe que nós fazemos várias versões de artistas que nos influenciam, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, dentre outros. E no barzinho é o momento que eu posso externar todas as canções que eu escuto e que não externa a Doppamina. O barzinho é a válvula para eu externo tudo aquilo que me influencia por completo, eu faço esse pessoal da MPB nordestina, a Fagner, Belchior e todo mais. Apesar da gente fazer hard core as pessoas devem pensar que a gente só escuta Dead Fish, Upence, Gritando HC, Ratos do Porão, mas não. Minha influencia principal é a MPB do Nordeste, principalmente Zé Ramalho.

FAROL: Gostaríamos que vocês nos contassem como a banda surgiu, como vocês iniciaram na música e fizessem um percurso do passado ao futuro. Como começou e quais os planos para a carreira?

PAULO: E embrião da Doppamina surgiu quando nós estávamos no ensino médio, no colégio Solidônio Leite. Fomos nos envolvendo com a música alternativa, o embrião surgiu aí, nós matávamos aula… não aconselho ninguém a fazer isso, no entanto nós chegamos a nos formar, já somos graduados e mas não aconselho a ninguém. Matava aula e ia para a casa de Kacike, só tínhamos uma viola, ninguém tinha instrumento. Tentávamos compor algumas canções, íamos muito para lá mas ninguém sabia tocar nada. Era a vontade de fazer algo alternativo, de fazer música. Mateus já arranhava uma violinha, mas muito pouco. Como Doppamina mesmo a nossa primeira apresentação foi no Cangaço Rock Fest de 2011.

MATEUS: Quanto a nossa proposta sonora, tem muitas bandas em Serra que querem agradar o público. Isso é algo que eu acho meio dependioso, o que a gente quer é mostrar o nosso cunho social através das nossas composições, porque antes de tudo uma banda tem que ter ideiais, o que a gente quer é liberdade, igualdade e paz. A gente quer passar isso através do nosso som, como também incorporar ao nosso som várias vertentes culturais, o xaxado, o coco, o maracatu, o afoxé, o mangue beat. O  som da Doppamina é justamente isso, o que a gente quer é realmente quebrar paradigmas.

Se você for observar, um show de rock aqui em Serra Talhada, o que o público espera é que toque Guns n’ Roses, Metallica ou o Iron Maden… só que a gente não, vamos tocar bandas underground, o Dead Fish. Fora as bandas que nós fazemos cover já. E as nossas canções são baseadas nisso, falar da realidade sertaneja, a casa de taipa, o terreiro, o mandacaru, o lajedo. E a realidade social que vivemos, a pobreza, a desigualdade social, a luta de classes, o indivíduo que varre as ruas e não recebe bem.

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PAULO: Trabalhamos nossas canções sobre o marasmo da sociedade, que assiste tudo de camarote e não se inquieta, não se questiona. A gente também toca nessa ferida, para o indivíduo se questione para as questões sócio-político e ambiental. As questões ambientais são inerentes, não por sermos biólogos, Mateus e eu, mas por  sermos cidadãos mesmo. Essa questão da poda indiscriminada de árvores que fazem aqui em Serra Talhada, partiu daí uma canção.  Todo esse contexto sócio-político ambiental serve de arcabouço para a Doppamina, tanto em termos de cidadania enquanto indivíduo, como em termos de banda. Para mostrar a galera uma visão mais holística do problema, que o pessoal tem esse problema de ver as coisas pequenas, não pensa grande. A Doppamina veio para promover essa mudança na cabeça do pessoal.

KACIKE: A Doppamina já tem, o embrião foi em 2007, já tem oito anos. O primeiro show em 2011, então como banda mesmo temos quatro anos. Nesses quatro anos adquirimos bastante experiência, aprendemos a tocar, que até então não sabíamos e os planos para esse ano é lançar o primeiro disco da banda. Já temos composições próprias, já estamos trabalhando nelas, o foco principal é o primeiro CD. Vamos continuar com nossos ideiais, que já foram apresentados aqui. Queremos fazer shows, levar muito som para a galera, fazer atividades e seguir com a banda.

FAROL: Para finalizar, gostaríamos de saber um pouco sobre as composições da Doppamina. Como surgem as letras e os temas?

MATEUS: Temos uma canção de trabalho, até então ela se chama ‘Poda’. No primeiro semestre do ano passado eu estive com o meu orientador, várias reuniões, tinha que ir à tarde e aquele mormaço. A gente subia pelo asfalto para pegar os ônibus e um mormaço infernal e árvores de copas quase da espessura do caule, uma coisa inimaginável. Atrelado a isso eu somei a imagem das pessoas nas calçadas com essas árvores minúsculas e lavando as calçadas. Foi algo que me tocou e eu achei totalmente contraditório o fato de você podar sua árvore e ao mesmo tempo usar sua água, que é um bem totalmente escasso, nesses dias a gente vai observar guerras por água. Baseado nisso foi que eu compus essa música chamada ‘Poda’ e vai ser tocada no dia 2.

DOPPAMINA NA 224ª FESTA DE SETEMBRO DE SERRA TALHADA (COVER DE ALCEU VALENÇA)

DOPPAMINA NO 2º DOMINGO ACESO – (COVER DE DEAD FISH)