Por Josenildo Mariano de Siqueira, professor de Serra Talhada
Menino briga, casal briga, e as ruas? Se não brigam, disputam denominações. Já pensou quando uma empresa, simbologias ou vulgos superam (engolem) as homenagens de nomes que passaram pelo crivo, pela aprovação da Câmara Municipal? Vamos exemplificar algumas ruas dentre tantas.
– Rua do Correios (em tempos remotos Rua Siqueira Campos, liderança política do Pajeú): veja a empresa divide espaço com o de hoje homenageado Cel. Cornélio Soares. Ainda bem que ela é larga e cabe os dois.
– Outra: Primeiro Rua do Motor, depois Rua da Celpe em seguida Rua Rui Barbosa. O homenageado era o jurista Rui Barbosa. Coitado do baiano, não venceu o acordão da vereança da época e viu suas prosopopeias voarem nas Águias de Haia superadas pelo filho do torrão Joaquim Conrado de Sá, hoje o homenageado.
– Já no outro acordão a vereança da época venceu, mas não convenceu. A data supera até hoje o homenageado – Sr Enock Inácio. Refiro-me à 15 de Novembro – Salve a data, nós curtíamos o feriado. Mas também sem consulta popular não dá. Fica a data mesmo.
– A praça do homenageado Agamenon Magalhães na disputa, é lista tríplice. A santa é mesmo rogada por poucos, mas carinhosamente chamada de Pracinha do Rosário. Os mais jovens valorizam a engenhosa arquitetura e a chamam de Pracinha da Concha. Vejam: o ex-governador Agamenon conquistou a principal avenida do Recife, emplacou seu nome em outras vias importantes do Estado – Caruaru, Salgueiro – mas assiste sua dupla falência no seu berço. Até o hospital raramente usa o seu nome, é mais prático a sigla Hospam.
– E quando o abre-alas local vence o vulto histórico nacional? Refiro-me a João Pessoa (homenageado com uma rua ao lado do mercado público). O feitiço contra o feiticeiro. O homem do histórico “nego” viu-lhe o seu nome depois negado na rua.
(Veja bem paraibano: Serra é nossa – bairrismo explicito). Hoje a dita cuja chama-se rua Dep. Afrânio Godoy. Mesmo assim o homenageado é invadido em parte do seu segmento, lá no seu poente, com o vulgo de rua do peixe. Se foram as bancas mas as escamas ficaram (é rua do peixe mesmo).
– Outra rua que os residentes estabelecem a data (homenagem ao nascimento do senhor João da Federal) é a rua 13 de maio, mas alguns maltratam com o agressivo termo de rua da lama, que há muito tempo já não tem mais lama, e qualquer outro estereótipo. Vale lembrar que a rua hoje é predominantemente comercial.
– Quem lembra da Rua São Pedro? Pois é. Uma homenagem ao apóstolo/santo. Interessante, imortalizou-se no Vaticano e não em Serra Talhada. Esse por vez foi substituído por Jacinto Alves de Carvalho, mas como se diz: “onde político faz concurso nem santo é aprovado”.
– Quanto à travessa Domingos Rodrigues, talvez até o carteiro esqueça onde fica, mas se falar o “beco do rio” até Obama sabe. Nada não, no rojão que vai com o rio cada vez mais poluído, um dia ele desaparece, aí sim o swnhor Domingos Rodrigues, o homenageado, será pronunciado.
– Agora gente, lá vem mau gosto. Desde quando uma data festiva comemorativa ficou outrora apagada diante algo depressivo? Refiro-me à antiga Rua da Cadeia, e perdurou por muito tempo e era Rua Sete de Setembro (dia de festa em nossa cidade). Hoje vulgo Rua do Fórum, que oficialmente é Rua Irnero Ignácio.
– Já Agostinho Nunes de Magalhães, esse sentiu o peso de um cinema (Rua do Cine Plaza). Agradecemos, é claro. Qualquer diversão é melhor do que um fazendeiro dono de gado às custas de escravos. Na época, Agostinho teve que esperar o filme acabar, o cinema fechar, para a homenagem valer. Mesmo assim, o homenageado ainda não descansa em paz, diante das informações: “ah, o senhor perguntou onde fica bar de Peninha (antigo bar de Josué)? Fica ali… na rua da Prefeitura”.
– E a Rua do Café? É exatamente a rua Henrique de Melo. O homenageado teve que esperar o café esfriar o moinho transferir-se para outro lugar, e aí sim, seu nome ser ressuscitado.
– E viva a mártir, jus foi feito. A antiga rua Boa Vista foi agraciada. Parabéns pela merecida homenagem dos seus residentes. Atualmente é Rua Francisca Godoy (esta foi residente na mesma). Mas oficialmente é Irmã Maria Luiza Da Rocha.
– Há quem diga: “A história não tem fim”. Discordo: tem sim. Caro leitor, você sabia que a rua Joca Magalhães chamava-se rua Joaquim Nabuco? Pois é. Mas não ligue, meu ilustre abolicionista. É assim mesmo. No futebol, também acontece isso, o time da casa sempre ganha. O juiz dá uma de centroavante.
– Em uma certa rua, os órgãos sufocam o homenageado. Se algo acontecer e for grave, a necessitar do Corpo de Bombeiros, seja prático, use as referências: rua do Detran ou outras. Se o ocorrido não for grave, use o nome do homenageado, Av. Custódio Conrado de Sá. Os bombeiros tem GPS, eles acham.
– Quem lembra da antiga rua do Calçamento? Sempre foi Comandante Superior. Mas quem é esse comandante? É o Manoel Pereira da Silva. Vejam: mais vale a patente do que a pessoa.
– Outra rua que antigamente era Rua do Industrial, do cemitério velho, atualmente do Cornélio Soares ou do Hemope. Onde está o homenageado Joaquim Godoy? Seria melhor cavar a falta e receber o vermelho do que está em campo sem pega na bola.
– E a antiga Rua Quatro da Planta. Sem comentários não sei nem o que é isso. O homenageado hoje José Alves da Silveira.
– Agora saindo um pouquinho do centro, vejam: a rua é conhecida, é famosa… refiro-me à rua do Rodeio. Gente, pasmem, nem a rua tão larga e bonita (mesmo esquecida pelos gestores), nem os moradores, e tampouco o homenageado Manoel Andrelino Nogueira, merecem tal vulgo (rodeio). Diga-se sem maldade, o bar do rodeio é… Vamos dizer assim… “Muito feio”. – Em outra o forasteiro é resistente. O Marechal alagoano Floriano Peixoto luta e não se entrega ao comando do homenageado da terra, Silvino Cordeiro, segundo relato dos seus residentes vale os dois.
– No bairro da Cohab vale a história e não suas atitudes. Quem dera, o homenageado é o famigerado Virgulino Ferreira Vulgo – Lampião. Coincidentemente, Anildomá do xaxado reside nesta, e isso me faz lembrar o velho Sodré (aonde a vaca vai o boi vai atrás)
– O Vulgo rua da casa dos pobres era muito utilizado para designar a rua do homenageado Isidoro Conrado. Hoje raramente se usa. Não sei dizer o porque da terminologia não ser mais usada, até mesmo porque o abrigo continua no mesmo lugar.
– Vou encerrando, lembrando o que comentam sobre uma possível rua no bairro do Bom Jesus… Dizem que seu vulgo é rua do Cacete Armado. Pobre do homenageado… Espero que seja um número, já que o bairro do Bom Jesus é coincidentemente uma réplica de Nova Iorque, com suas ruas também enumeradas.
Até a próxima! Agradeço aos familiares dos homenageados pelos seus nomes aqui citados.
12 comentários em OPINIÃO: A dança das ruas de Serra Talhada, por quem os sinos dobram?