Neste domingo de dezembro, o FAROL abre as suas páginas para o padre Afonso Carvalho, 78 anos e 50 de sacerdócio. Nesta entrevista, Afonso Carvalho revela suas preocupações com Serra Talhada, avalia o governo Duque e faz considerações sobre o atual sistema econômico. As fotos são do fotógrafo Alejandro Garcia.

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FAROL: Em  Serra Talhada  foi criada uma Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o senhor consegue observar se houve avanços nesses dois anos na cidade?

Afonso Carvalho: Olha, eu tenho ouvido pelo rádio, algumas apresentações dos secretários, dizendo algumas coisas boas, não sei se corresponde. Sobretudo com esse pessoal que joga lixo, as indústrias, as empresas que jogam lixo, agora têm apertado bastante. Depois olhando mais a questão dos quilombos, organizando direitinho. Agora na praça, em outras coisas eu num tenho visto fazer nada não.

FAROL: Recentemente, teve uma polêmica aqui na cidade, a derrubada de duas árvores ali na Avenida Afonso Magalhães, duas algarobas,  O senhor acha que em uma cidade como Serra Talhada, o momento é de derrubar árvores ou de trabalhar por uma ampliação do verde na cidade?

Afonso Carvalho.: Eu acho mais interessante uma ampliação da arborização da cidade, não de destruir. Agora eu tenho uma observação sobre a algaroba, não é muito bom a algaroba como arborização para a cidade e nem em plantações em grandes espaços de terreno, porque é uma árvore invasora, que ela não deixa espaço para as outras árvores envolvidas. É uma árvore de procedência peruana, entrou aqui no Brasil em 1942 e 1958 ela se difundiu muito através do governo de Cid Sampaio, mas ela é útil em muitas coisas, mas pra nossa vegetação ela domina e maltrata nossas plantas. E a alimentação dela quando é dada 100% ela, realmente, provoca doenças graves no gado. Tirar a algaroba eu não faço nenhuma restrição, agora transformando para outras árvores. Então, essa da algaroba eu não posso desaprovar, não.

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FAROL: Mudar agora da questão ambiental para a questão política. É muito comum, em períodos eleitorais, alguns políticos, quase todos lhe procurarem. Alguns deles até pra pedir conselhos, como aconteceu recentemente nas eleições de 2012. Dá para o senhor avaliar, por exemplo, o comportamento dos deputados eleitos por Serra Talhada, nesses dois anos?

Afonso Carvalho: Eu observo que, sobretudo, eles ainda querem alguma coisa para Serra Talhada. E alguns deles trazendo algumas coisas também pra Serra, diretamente, calçamento, barragens, poços, têm um certo interesse nesse ponto, né? Agora, interferindo ou influenciando positivamente na administração da prefeitura é totalmente fora. Não tem nenhum penetração nisso, mas que alguns deputados tem feito algum esforço grande pra arrumar alguma coisa pra Serra. Sobretudo, nessa época da seca, né?

FAROL: Como é que o senhor vê a administração do prefeito Luciano Duque nesses dois anos, qual é a avaliação que o senhor faz do prefeito?

Afonso Carvalho: A avaliação do prefeito que eu faço não é muito boa, porque o que ele prometeu de crucial para a cidade, o que é mais preciso, ele não tá atendendo. Por exemplo, nós temos o matadouro, os candidatos, ambos os candidatos falaram muito na retirada desse matadouro, que é uma afronta ao Pajeú e ao mesmo tempo um desrespeito à população do Alto do Bom Jesus que somando com a Borborema dá mais de 20 mil habitantes. E o matadouro está obsoleto, muito pequenininho. E difundindo muito um odor ruim pra cidade, vai até o cemitério, Dá uma média de 1 km. E ao mesmo tempo tem, justamente, a poluição do rio Pajeú, isso é uma obrigação. E não há nenhum sinal de que se está fazendo alguma coisa. Então, algumas promessas feitas não são atendidas ainda. Isso é o que vejo, percebo realmente um esforço grande de adquirir obras grandes, de destaque, mas as pequeninas são desprezadas.

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FAROL: O prefeito chegou a dar uma nota ao governo dele, cinco, que nota o senhor daria ao governo do prefeito Luciano Duque?

Afonso Carvalho: Olha, eu não vou dar só um cinco não, vou dar um seis, pelo menos, né?!

FAROL: Tá na média?

Afonso Carvalho.: É.

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FAROL: O senhor sempre esteve presente nos bastidores da política, pelo menos o que eu venho acompanhando da década de 90 pra cá, já chegou a ser cogitado À sair candidato a prefeito de Serra Talhada?

Afonso Carvalho: Quando Augusto César foi candidato a prefeito (1992) ele estava me assessorando para eu ser o candidato, mas eu disse a ele que não ia ser doido de ser candidato de um sistema capitalista, de um modelo econômico explorador, que a gente não faz nada. Ai empurrei Augusto César, e dei uma jogada pra isso, né?

FAROL: Então, Augusto foi prefeito devido a sua articulação?

Afonso Carvalho: Não foi minha articulação, não. A articulação deles, eles tentaram me colocar, eu participei de muita reunião, mas quando me fizeram o convite, eu disse ‘Deus me livre’. Ser candidato de nenhum regime de modelo capitalista eu tinha coragem, porque a gente é explorado, é instrumento do modelo e não há como fazer correto não. Então, realmente,  nesse tempo fizeram essa tentativa, mas eu num caí na arapuca, não.

FAROL: Política e religião podem caminha juntas?

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Afonso Carvalho: Não, não presta não, sempre errado. A própria história do Brasil diz isso, né? Quando o império era ligado ao estado, a intervenção era muito complicada e muitos autorizavam o marçon na igreja. Então, a separação é a melhor coisa possível. Uma política baseada em religião, e religião com política, não dá porque, a religião que é abraçada pelo político tem um destaque e as outras desprezadas. Então, não dá. Num caminho pra isso não, é melhor lutar pela liberdade. A política seguir sozinha, a política só dá certo com a economia, por causa do capitalismo. Elas realmente se entendem, se abraçam muito bem, o capitalismo e a política, mas com outras organizações sérias a política num vai tá prestando, não.

FAROL: Qual o principal sonho, hoje, de Padre Afonso de Carvalho. O que é que espera que vai acontecer ainda, as perspectivas para Serra Talhada?

A.C.: Eu não tenho nenhuma outra perspectiva, a não ser surgir um candidato sério pra poder ser eleito. Não tenho ambição de pensar coisa concreta, não. Com o sistema econômico que nós temos, não é fácil ter um governo positivo para o município, não.

O sistema político é o responsável número um de todas as coisas erradas que existem, o sistema econômico. Aí o político abraçando não tem jeito, não. Ele penetra tudo, penetra no econômico, penetra no político, penetra no religioso, penetra no comum da vida da gente, na sociedade e vai formando um vazio enorme para nada dar certo, só o lucro. É onde tá o problema, o modelo só quer duas coisas: prazer, pra pessoa realizar todos os prazeres em todos os sentidos, em todas as áreas; e o ter, mas não tem preocupação com o ser, invade o ser e o ser é destruído pelo ter e pelo prazer.

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