Do G1 Mundo

O governo espanhol anunciou nesta sexta-feira (25) que vai suspender o presidente da Federação Espanhola de Futebol, Luis Rubiales, de seu cargo por conta do beijo que ele deu na jogadora da Espanha Jenni Hermoso após a final da Copa do Mundo feminina, caso a Justiça esteja de acordo.

O governo enviou um pedido ao Tribunal dos Esportes do país sobre a suspensão, solicitada pelo Conselho Superior de Esportes da Espanha – a Federação Espanhola de Futebol é subordinada ao Ministério dos Esportes.

“Este é o ‘Me too’ do futebol da Espanha”, disse o presidente do Conselho de Esportes, Víctor Francos, em referência ao movimento nascido nos Estados Unidos à raiz de denúncias de casos de assédio sexual no mundo do cinema.

Luis Rubiales deu um beijo na boca de Hermoso no domingo (20) durante a entrega de medalhas na final da Copa do Mundo feminina, na Austrália, da qual a Espanha foi campeã. O gesto gerou fortes críticas e repercussões negativas. O primeiro-ministro espanhol condenou a atitude, que duas de suas ministras chamaram de violência sexual.

Mais cedo, Rubiales disse que não deixará o cargo e alegou que houve consenso sobre o beijo.

“Não vou deixar meu cargo. Foi um beijo espontâneo, mútuo e muito consentido”, declarou. “O desejo que eu tinha de dar esse beijo era o mesmo que eu teria de dá-lo na minha filha”.

O vice-presidente da federação pediu demissão em protesto à atitude de Rubiales (leia mais abaixo).

Rubiales alegou também que, no momento, perguntou a Hermoso: “um selinho?”. Ainda segundo o dirigente, a jogadora respondeu: “ok”. Hermoso não havia confirmado o diálogo até a última atualização desta notícia.

Durante discurso na assembleia extraordinária do Conselho Superior de Esportes convocada exclusivamente para debater o caso, Rubiales disse ainda que lutará “nas vias judiciais para limpar meu nome”.

Disse ainda ser vítima de um “assassinato social” por conta de um “falso feminismo”.

Segundo fontes ouvidas pela imprensa espanhola, Rubiales havia decidido se demitir na quinta-feira (24), após a Fifa anunciar que abriria um processo disciplinar contra ele por conta do beijo forçado. Nesta manhã, no entanto, ele mudou de ideia e decidiu que se manter no cargo seria uma forma de tentar limpar seu nome.

A assembleia ainda estava em andamento até a última atualização desta reportagem – pode haver uma votação para condenar o gesto ou até decidir pela demissão de Rubiales. Mas o discurso do dirigente, na abertura do evento, já gerou repercussões.

  • vice-primeira-ministra da Espanha, Yolanda Díaz, condenou a resistência de Rubiales a deixar o cargo e disse que o governo vai buscar providências. Díaz pediu a demissão de Rubiales.
  • jogadora da seleção espanhola Alexia Putellas se declarou após o discurso: “Isso é inaceitável. Não dá mais. Estou contigo, Jenni Hermoso”.
  • O ex-jogador e ex-capitão da seleção espanhola Iker Casillas também criticou o discurso. “Vergonha alheia🤦‍”, postou Casillas, que também ficou conhecido mundialmente por dar um beijo ao vivo em sua então namorada, a repórter Sara Carbonero, quando ela o entrevistava após a final da Copa do Mundo de 2010, na qual a Espanha foi campeã. Na ocasião, Casillas também chegou a ser receber críticas pelo beijo que, mesmo em sua namorada, ocorreu de forma não consentida e no momento em que ela trabalhava.
  • vice-presidente da Federação Espanhola de Futebol, Rafael del Amo, pediu demissão logo após o discurso de Rubiales em protesto contra a postura do presidente. “O que ele fez foi inaceitável”, disse, em entrevista à RTVE, a TV pública espanhola.
  • Quem também criticou a postura de Rubiales foi Javier Tebas, o presidente da La Liga – entidade privada que organiza o principal campeonato de futebol espanhol. Ele chamou o comportamento de Rubiales de “misógino e desprezível”.

“É impossível atribuir o seu comportamento misógino e desprezível a qualquer conspiração absurda quando o dano à reputação de todo o futebol espanhol já é inevitável”, disse Tebas.

Tebas e Rubiales travaram um embate em maio deste ano por conta dos ataques racistas sofridos em campo na Espanha pelo jogador brasileiro Vinícius Jr. Tebas minimizou o caso e negou que haja racismo na Espanha.

Logo depois, Rubiales saiu em defesa do brasileiro, desqualificou as falas do presidente da La Liga, afirmou que ele apenas dirige uma entidade privada e não pode falar pelo futebol espanhol.

Jogadores também começaram a expressar indignação com a postura de Rubiales. Após o discurso desta manhã, o jogador Borja Iglesias anunciou que deixará a seleção espanhola de futebol masculino até o dirigente deixe o cargo.

“Estou triste e decepcionado. Como jogador e como pessoa, não me sinto representado pelo que ocorreu hoje na Cidade do Futebol (onde Rubiales discursou). (…) Tomei a decisão de não voltar à seleção até que as coisas mudem e essas atitudes não fiquem impunes”, escreveu.