Fotos: Farol de Notícias / Celso Garcia

Publicado às 21h50 desta segunda-feira (17)

“Minha raça tem candura”. É o que diz uma senhora de cabelos esbranquiçados pelo tempo que cobrem uma cabeça boa e liberta de maldade. Terezinha Araújo é uma agricultura paraibana, mãe de 7 filhos, avó de 23 netos e dezenas de bisnetos, que no florescer dos seus 91 anos mantém uma memória impecável e uma doçura nas palavras ao contar sua história de luta, fé e alegria de viver.

A sorridente Terezinha é nascida na cidade de Olho D’água, no interior da Paraíba. Chegou em Serra Talhada há 55 anos e fez morada para terminar de criar os filhos que teve com Pedro Jenuíno, falecido aos 57 anos. A reportagem do Farol de Notícias conheceu no Dia dos Pais a história de um de seus filhos, o dono de restaurante Erivaldo Araújo. E convocado pela filha mais nova Maria de Fátima, fomos até o bairro Bom Jesus, conhecer a casa da família para ouvir alguns causos.

“Tive 7 filhos, 2 homens e 5 mulheres, criei tudo com o trabalho na roça, de agricultora. Tinha 46 anos quando vim para Serra. Ele faleceu lá e meus outros filhos já estavam uma aqui, outra em Feira de Santana, em Brasília, e só tinha eu lá e duas meninas. Sei o nome de todos, Luzia, Sebastião, Erivaldo, Josefa, Maria Selma, Maria de Fátima e Geralda. De neto tem bem uns 23, e bisneto também. Tem uma família boa. Aqui eu fui me acostumando e hoje eu gosto mais daqui, porque foi onde terminei de criar meus filhos, botei tudo nos colégios, se formaram, foram trabalhar e seguir a vida”, exclamou a simpática senhora.

A ingênua senhora é devota da Mãe Rainha, e mantém consigo suas rezas e cantos. Mas na juventude gostava muito de festas e até arriscava um forrózinho. Fã de Vicente Nery e Cheiro de Menina, certa feita levou CDs para toda a família. No meio da conversa, Dona Terezinha revelou uma das mais populares histórias dos sertões nordestinos. Onde mulheres e crianças indígenas são levadas de seus povos para viver em outras localidades. O causo tem por traz a verdadeira história de constituição da população brasileira.

“A beleza família é dos dois [dela e do marido]. Eu digo como o avô delas dizia: ‘minha raça tem candura’, porque ele dizia que a família dele era toda bonita, as mulheres. Na minha descendência eu sou família de indígena, minha bisavó foi pega de dente de cachorro. Meu bisavô era marinheiro, quando foi um dia ele encheu a caminhonete dos ‘cabras’ dele e cachorros e foi caçar, quando chegou lá na Funai foi aquela confusão, e no corre corre um dos cabras pegou uma índia de cabelo longo, escorrido e levou pro meu bisavô. Quando ela ficou mocinha, meu avô se apaixonou por ela e o pai dele fez o casamento”, relembrou com detalhes.

Dona Terezinha e seus 7 filhos reunidos em seu aniversário de 80 anos

Ao lado do mural das fotos em família fica o cantinho de fé de Dona Terezinha, onde reza e canta pela proteção dos filhos, netos e bisnetos