A família de Carlos Afonso dos Santos entrou em contato com o FAROL para rebater a versão, dada à Polícia Civil, do assassino confesso do moto-taxista. Cinco meses após o crime, os investigadores conseguiram identificar o autor do homicídio, dando voz de prisão a Edinaldo Fernandes da Silva Gomes. Em seu depoimento, ele alegou motivos passionais, mas a própria polícia desconfia dessa versão, e cogita o envolvimento de outras pessoas e motivações. Os familiares esperam que a investigação continue e que os fatos sejam esclarecidos. Confira!

FAROL – Como as senhoras, irmãs de CarlosAfonso, analisam as declarações do assassino? A polícia deve ficar confortável com o que ele alegou?

D. Francisca (Liriel) – Eu acho que é mentira. Foi uma confissão vaga. Todo mundo conhecia meu irmão naquela redondeza. Há 16 anos. Tem algo a mais e ele não quer dizer.

D. Cícera – Se meu irmão estivesse num bar, numa farra, poderia até ser possível que ele tivesse dito alguma coisa com a esposa desse rapaz, como ele diz. Mas, no local de trabalho, Afonso jamais faria isso.

D. Francisca – Na confissão, ele diz que não ouviu meu irmão cantar a esposa dele, foi a esposa que chegou e contou à ele. Se fosse outro, se pensasse direito, teria chegado no ponto de moto-táxi e chamado meu irmão para conversar, esclarecer as coisas. E não agir assim, de modo tão cruel.

No depoimento ele também disse que pegou a arma que usou no crime emprestado com um amigo. Quando perguntaram à ele onde estava a arma, ele disse que era a mesma que usava para praticar roubos pela redondeza. Isso está muito mal explicado. Um amigo não emprestaria uma arma assim, ainda mais se soubesse que ele iria roubar, ou pior, matar.

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DONA FRANCISCA DOS SANTOS (DONA LIRIEL) EXIBE A FOTO DO IRMÃO, ASSASSINADO FRIAMENTE NO FINAL DO ANO PASSADO EM SERRA TALHADA
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FAROL – Como era a relação de Carlos Afonso com a família?

D. Francisca – Uma relação muito boa. Era um homem muito bom. Adorado pelo meu pai e pela minha mãe, o filho predileto deles. Desde pequeno, nunca gostou de confusão, evitava ao máximo. Afonso veio de São Paulo uns anos atrás para cuidar de nossos pais, que já estavam bem velhinhos. Estava aqui há 16 anos; logo que chegou entrou no ramo de mototaxista, estava por todo esse tempo no ponto dos Laranjinhas.

FAROL – A senhora espera uma punição exemplar para o assassino?

D. Francisca – Com certeza! Esperamos que a justiça seja feita!

D. Cícera – Esperamos que procurem testemunhas e que provem se o que ele diz é verdade; para mim não é. Meu irmão transportava muitas mulheres no trabalho, muitas até casadas, e nenhuma delas nunca reclamou da conduta dele. Dar em cima de alguém não é crime, nem merece ser punido e dessa forma. Coisa que não acredito que Afonso tenha feito, dado em cima da esposa dele.

D. Francisca – Ele arquitetou isso, não foi de repente. Planejou, não tem condições. Ele disse que foi um crime passional; até onde sei, esse tipo de crime se caracteriza quando a mulher deixa o homem e junta-se a outro. Então o homem, com ciúmes, vai lá e mata o amante e a mulher. Não foi isso que aconteceu, logo não foi crime passional. Meu irmão bebia sim, tomava um cervejinha nos fins de semana, vez ou outra. Mas, em casa, no canto dele, sem mexer com ninguém. Ele dizia que amigo de bar não era amigo.

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Afonso era muito boa pessoa. Ele que resolvia as coisas de meus pais, que tirava o dinheiro da aposentadoria deles, que levava eles para os médicos. Os vizinhos nunca reclamaram dele, nem tinha do que reclamar. Nós, as irmãs dele, como mulheres, não temos como nos defender. Meu pai tem 88 anos, minha mãe tem 83. Afonso era nossa defesa.

FAROL – Se pudesse ficar frente a frente com o assassino, o que a senhora diria à ele?

PAI DE CARLOS AFONSO MOSTRA A INDIGNAÇÃO PELA VERSÃO DADA À POLÍCIA CIVIL  PELO ASSASSINO CONFESSO DO MOTO-TAXISTA
PAI DE CARLOS AFONSO MOSTRA A INDIGNAÇÃO PELA VERSÃO DADA À POLÍCIA CIVIL PELO ASSASSINO CONFESSO DO MOTO-TAXISTA

D. Francisca – Que meu irmão não merecia morrer da forma que morreu, clamando pela vida. Ele lutou pela vida até o último segundo; mesmo ferido, ainda correu por 200m, pulou uma cerca, quebrou um braço e então chegou na casa da senhora lá, que ligou para a Polícia. Afonso era carinhoso, preocupado, amava a família acima de tudo. Para meus pais, minhas irmãs e eu, ele será eterno.

Chegava para almoçar, perguntava por minha mãe, fazia carinho na cabeça de meu pai e voltava pro trabalho. No dia em que ele morreu, antes de sair de casa, pediu a bença ao meu pai. Meu pai respondeu: “Que Deus te acompanhe, meu filho”; e meu irmão não voltou. Era carinhoso, preocupado, prestativo. Esse era meu irmão. A vida está difícil, muito difícil.

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D. Cícera – Eu diria que ele não matou só uma pessoa, mas sim 6. Minha mãe, que já era doentinha, ficou muito pior depois que Afonso se foi. Meu pai nunca mais foi o mesmo. É triste vê-los assim, é triste saber que meu irmão não vai voltar mais.

D. Francisca – Também perguntaria à ele, e agora? Como fica sua esposa? Você preso e ela sozinha. Se alguém der em cima dela, como você diz que meu irmão o fez, o que acontece? Quando sair da cadeira vai lá e mata outro inocente? Se fosse um crime passional, por que carecia de levá-lo tão longe para matá-lo? Poderia ter chegado no ponto e feito isto. Também não o matou para roubar, como algumas pessoas dizem. O que estava com meu irmão ficou com ele.

Nós queríamos agradecer a todos que comentaram na matéria anterior. Agradecer a atenção e o carinho da população conosco, apreciamos muito isto. Agradecemos também ao FAROL por nos dar vez e voz, por nos permitir rebater essas falsas acusações contra meu irmão, que nem está aqui para se defender.

Agradeço à Giovanni pela oportunidade. Quero dizer que meu irmão será eterno para nós, que a saudade é enorme, mas que a vida continua. Vamos sobrevivendo um dia de casa vez. Só nos resta esperar e clamar por justiça. Agradecemos também à Polícia pelo esforço e pelo trabalho conjunto para saber o paradeiro do assassino de meu irmão.