Do g1

Foto: Paula Paiva Paulo/G1

Do lado de dentro de um dos principais pontos turísticos de São Paulo, boxes e restaurantes vendem frutas, verduras, carnes, peixes, castanhas. Do lado de fora do Mercadão Municipal, no Centro de São Paulo, um flagrante da luta contra a fome: pessoas buscando ossos de carne na caçamba de descarte do mercado.

Josefa Romão, de 55 anos, desempregada, contou que há poucos dias começou a ir no local para tentar garimpar os ossos. “Vergonha é roubar e ir para a cadeia, eu não vou morrer de fome não”, disse enquanto buscava o alimento em meio ao lixo da caçamba.

Ela mora em Guianases, na Zona Leste da capital – a cerca de 30 km do Mercadão – e divide o aluguel de R$ 400 com um companheiro. Ela costumava ajudá-lo com a venda de coco, em uma barraca próxima ao mercado, mas conta que as vendas caíram muito. “Quando não tinha essa pandemia era tudo bem”, disse Josefa.

Segundo um funcionário do Mercadão que trabalha no local, o ponto sempre foi buscado por moradores em situação de rua para tentar conseguir alimentos que foram jogados fora, mas com a crise causada pela pandemia, também começaram a aparecer famílias com moradia, mas que passam por dificuldades.

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O autônomo João Silva, de 43 anos, também estava em busca do que seria descartado na caçamba. No entanto, ele resgata os alimentos antes mesmo que sejam jogados no lixo, já que ele tem outro foco: além do consumo próprio, a revenda para auxiliar com a renda e o aluguel de um cômodo na Liberdade.

“Aqui eu pego peixe, camarão, caranguejo. Tudo que é de mistura que dá para aproveitar, a gente aproveita, que dá para o meu sustento, e para eu poder ganhar um dinheiro também”, conta João.

Sobre a procura por alimentos descartados no local, a empresa vencedora da concessão do Mercadão informou que “as empresas que ocupam os espaços já efetuam doação para ONG’s de sua preferência”.

Um outro ponto de procura por alimentos que seriam descartados é a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp). Localizado na Vila Leopoldina, Zona Oeste de São Paulo, o entreposto é a maior central de abastecimento de frutas e verduras da América Latina.

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Antônia da Silva, de 60 anos e Edilene de Jesus, de 32, saíram de Francisco Morato, cidade da Grande São Paulo, e foram até a central de distribuição de alimentos atrás de frutas e legumes para a família, já que a compra de carne está “impossível”. “Mistura é ovo e hambúrguer, que é o que dá para comprar”.

Segundo as mulheres, a entrada com carrinhos de feira foi proibida no local, e elas carregavam sacolas as frutas e verduras que conseguiram com os comerciantes.

Procurado pelo g1, a Ceagesp não se manifestou sobre as restrições às pessoas que buscam os alimentos que seriam descartados.

‘Fila da fome’ e protesto por marmitas

Desde 2020, com o agravamento da crise econômica causada pela pandemia, a capital paulista registra filas quilométricas de pessoas à espera de um prato de comida.

Na tenda que havia sido montada no Largo São Francisco, no centro da cidade, voluntários chegavam a distribuir mais de mil marmitas por dia.

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Nesta quinta-feira (7), movimentos sociais entregaram um ofício com pedido de reunião com o prefeito Ricardo Nunes (MDB) para cobrar a promessa de continuidade do programa Rede Cozinha Cidadã, que forneceu marmitas para 10 mil pessoas em situação de rua desde o início da pandemia.

Após protestos, Nunes teria voltado atrás da decisão de encerrar o programa no dia 22 de setembro, de acordo com o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Milton Leite (DEM). No entanto, de acordo com representantes dos movimentos sociais, até o momento estão sendo entregues apenas 3.200 marmitas por dia das 10 mil previstas.