Quase três anos após a maior enchente da história de Pernambuco, vítimas da tragédia ainda esperam pelas casas prometidas à época pelo governador do Estado, Eduardo Campos (PSB). A Folha visitou as cidades de Maraial, Água Preta, Barreiros e Palmares, todas parcialmente destruídas pela cheia de junho de 2010. Para erguer novas moradias aos desabrigados desses municípios, o governo de Pernambuco recebeu R$ 50 milhões do Ministério da Integração Nacional para obras de terraplanagem e outros R$ 151 milhões da Caixa Econômica Federal para construção e doação de 3.600 unidades. Tudo em caráter emergencial.

Como gestor da Operação Reconstrução, o governo de Eduardo Campos assumiu a tarefa de indicar terrenos, escolher construtoras, cuidar da infraestrutura de água, esgoto e energia elétrica e cadastrar beneficiários. “Nós juntos vamos reconstruir como outras nações conseguiram se reconstruir”, disse Campos em julho de 2010, no discurso em que se lançou à reeleição no Estado. Aposta do PSB para a Presidência em 2014, Campos tem alta popularidade em Pernambuco e vem ensaiando um desembarque da base de apoio do governo de Dilma Rousseff sob o mote de que “é possível fazer mais”.

PRAZO

As casas, segundo a Caixa, deveriam estar prontas desde março de 2012. O cenário, porém, é de lentidão e abandono. Nenhuma obra foi totalmente concluída. O caso mais grave ocorre em Maraial, onde o projeto de socorro não saiu do papel. Vacas pastam no terreno onde deveriam estar 264 casas. Nos outros três municípios, grandes placas anunciam a Operação Reconstrução, inconclusa em todos eles. O governo de Pernambuco disse que a operação planejou 17.349 novas casas em todo o Estado, mas só 2.600 foram entregues até agora.

A verba federal para terraplanagem foi destinada apenas às quatro cidades visitadas pela reportagem. No restante, os recursos para preparar o solo foram estaduais. Expondo cadastros feitos pelo governo estadual em 2010, as vítimas continuam vivendo à beira de rios, em morros e casas arruinadas.

Como o casal Sebastião da Silva, 47 anos, e Lindalva Maria, 30. Com seis filhos e comprovante do direito ao benefício na mão, vivem hoje em Água Preta numa espécie de ruína, com banheiro a céu aberto, à margem do rio Una e de possível nova enchente. José Amaro da Silva, 35, perdeu o pai de 72 anos e a casa na cheia de 2010. Espera nova moradia, assim como o aposentado Nelson João da Silva, 69. “Fiz o cadastro três vezes e nada foi resolvido.”

Há também casas concluídas abandonadas, cercadas por mato alto. Dezenas foram depredadas, estão sem vidros e com portas arrombadas. Do que foi entregue, grande parte está sem infraestrutura. Faltam água (o abastecimento é por caminhão-pipa) e iluminação pública. Algumas estão sendo alugadas, o que é proibido porque os imóveis foram doados.

DA FOLHA DE SÃO PAULO