Do Diario de Pernambuco 

Um homem de 54 anos que realizava o sonho de pular de paraquedas pela primeira vez, morreu na última terça-feira (23), após complicações decorrentes do salto. O prestador de serviço Sérgio Eduardo Correia, fez um salto duplo do Aeródromo Coroa do Avião, pela empresa Vertical Jump, em Igarassu, Região Metropolitana do Recife, no último sábado (20). Após o salto, segundo a empresa, foi realizado um pouso forçado numa área não prevista, ocasionando fraturas na vítima e no instrutor que continua hospitalizado. Segundo informações, Sérgio chegou consciente na UPA de Igarassu, e teve três costelas quebradas e fraturas nas duas vértebras, além de reclamar de dores nas pernas. A vítima chegou a ser transferida para o Hospital Miguel Arraes, em Paulista, e em seguida para o Hospital da Restauração, na Área Central do Recife, onde faleceu na noite da terça, após ter tido duas paradas cardíacas. Nesta quinta-feira (25), o aeródromo foi interditado por tempo indeterminado em ação conjunta com a Delegacia de Cruz de Rebouças e o Procon-PE. As instituições constataram que os materiais utilizados na hora do voo continuaram a ser utilizados pela empresa após o acidente. Os itens foram recolhidos e encaminhados para análise. A Polícia Civil iniciou um inquérito criminal para esclarecimento do caso.

“O que aconteceu não pode se repetir. Manter o pleno funcionamento do estabelecimento mesmo após um acidente grave como o que ocorreu e ainda utilizando os mesmos instrumentos que podem ter sido a causa da ocorrência, é uma irresponsabilidade e uma falta de respeito não só com a vítima, mas com todos os outros clientes”, frisa o secretário de Justiça e Direitos Humanos, Pedro Eurico.

A irmã mais nova da vítima, Marília Karla Correia, pede pelo esclarecimento da situação. “Nesse momento, a gente quer entender o que foi que aconteceu e o porquê disso. Se foi erro do instrutor, se foi falha no equipamento, se a empresa tem licença. A gente quer entender, para que não aconteça com outras pessoas”, relata.

Abalada, Marília alertou as pessoas que se interessam por esportes radicais, para pesquisem bem sobre as empresas que oferecem os serviços. “Se alguém quer praticar algum esporte que tenha risco, procure se informar se a empresa tem capacidade real de desenvolver o que ela está propondo. Sérgio não vai voltar. É um buraco que vai ficar para sempre. Só quero poupar outras famílias de sentir essa dor. É muito difícil. Eu já perdi a minha mãe, mas uma coisa é perder alguém que já estava muito doente. Outra coisa é você perder um atleta, cheio de vida, que sai de casa para realizar um sonho e não volta mais, pois teve a vida ceifada”, disse a irmã mais nova da vítima.

A Polícia Civil, por meio de nota, explicou que abriu um inquérito policial para investigar “a morte por acidente”. A polícia disse que as informações iniciais apontam que “houve um acidente durante o salto de paraquedas” e que a Delegacia de Cruz de Rebouças está realizando todas as diligências “necessárias para o esclarecimento do fato”.

O Órgão de Defesa do Consumidor também oficiou a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para conhecimento do caso e para que seja apurada a regularidade da empresa responsável pelo voo.

FAMÍLIA
Para os familiares, Sérgio sempre foi motivo de orgulho pelas ações que desenvolvia. Aos 54 anos, era ativo fisicamente, participava de grupos de ciclismo e também era membro de um projeto social, nos fins de semana.

“Sérgio era a mãe de todo mundo. Eu perdi minha mãe faz oito anos. E ele era meio que a mãezona, assim. Não negava nada a ninguém. Toda vez que alguém precisava de alguma coisa, íamos para Sérgio. Ele fazia parte de quatro grupos de ciclismo, era instrutor de dois. No velório dele, o pessoal dizendo que toda vez que alguém tinha alguma cãibra, ele deixava o grupo e ficava do lado da pessoa, até ela se recuperar e poder continuar o trajeto. Gente que era obesa e não conseguia andar de bike, Sérgio motivava e ensinava por onde começar. Acompanhava a pessoa até que pudesse ir com os grupos. Ele era reservado, mas não negava nada a ninguém. O que nos conforta nesse momento é isso. O quanto ele era querido. Ele fazia um projeto social todo sábado, e a gente nem sabia. E isso pra mim, só me traz mais orgulho do meu irmão. Pois quando a gente faz caridade, não precisa está contando a ninguém”, relata aos prantos, a irmã caçula.
Marília conta que este foi o primeiro salto do irmão e que as gravações do momento podem ajudar a explicar o que teria ocorrido. “Foi o primeiro salto dele. Ele saltou com o instrutor. Eu já saltei há dez anos atrás. E, no primeiro salto, a gente não faz nada. A gente fica amarrado ao instrutor, que vai preso nas costas da gente. Ele que faz tudo. Dá impulso pro salto do avião, que puxa o paraquedas. Então, Sérgio estava sob responsabilidade da empresa e do instrutor deles. A gente também gostaria do acesso das filmagens, que segundo os amigos dele, ele pagou mais caro para que fosse filmado. E essas imagens não chegaram até agora. Seria esclarecedor com essas imagens”.

“Ele foi embora deixando uma filha grávida de cinco meses, ele não vai conhecer o neto. É bem difícil para a gente. Meu pai perdeu um filho com 83 anos. Para dar a notícia a ele foi bem complicado. Ele tinha sido levado à urgência do Hospital Português um dia antes de Sérgio”, relata Marília.

“Nada do que for feito vai trazer meu irmão de volta, na realidade. Sérgio partiu realizando um sonho. Ele saiu de casa para saltar de paraquedas, era uma coisa que ele queria fazer, e não voltou. A gente está neste momento tentando entender o que aconteceu”, finaliza.

Com o inquérito policial instaurado pela Polícia Civil para investigar o caso, o desejo dos familiares é que seja realizado o esclarecimento acerca do caso.

A EMPRESA

Segundo o relato de um representante do aeródromo, foi realizado um salto duplo (o cliente e o instrutor), onde um pouso de emergência foi feito no povoado de Cuieiras, na Zona Rural de Igarassu, fora da área prevista. “Foi um pouso forçado, com um pouco mais de impacto, onde tanto ele quanto o instrutor sofreram escoriações. Foram socorridos imediatamente para o hospital. O Sérgio veio a falecer três dias depois, no Hospital da Restauração”.

Um dos funcionários da Vertical Jump também foi conduzido à delegacia para prestar esclarecimentos quanto ocorrido, aos protocolos de emergência adotados e ao socorro prestado à vítima.

Uma nota técnica seria enviada ao Diario, pela empresa, com mais detalhes do que teria ocorrido. Contatada, a empresa não respondeu mais as nossas mensagens até o momento da publicação desta matéria.