O secretário de Cultura e um dos coordenadores da Fundação Cabras de Lampião de Serra Talhada, Anildomá Souza, fez questão de entrar em contato com o FAROL para nos fazer lembrar sobre a importância histórica deste domingo (7), quando um dos personagens mais polêmicos e ilustres desta terra, Virgolino Ferreira, o Lampião, completaria 116 anos, se estivesse vivo. Apesar da lembrança póstuma, existem pesquisadores que botam fé que o cangaceiro ainda sobreviva, ou que teria morrido muito tempo depois do que prega a história oficial.

“Hoje, 7 de julho, se Lampião vivo fosse, estaria completando 116 anos. Conforme sua certidão de nascimento, nasceu nesta data, aqui em Villa Bella”, lembrou o secretário de Cultura, um dos maiores defensores da cultura do cangaço no Estado e fora dele. O texto que segue é do livro Lampião: Nem Herói e nem Bandido – A História,  nos enviado gentilmente por “Domá” para fazer lembrar a data.

 TRECHO DO LIVRO

José Ferreira da Silva e Maria Sulena da Purificação residentes no Sítio Passagem das Pedras, em Vila Bella, Estado de Pernambuco, tiveram os seguintes filhos:

Antonio Ferreira

Livino Ferreira

Virgolino Ferreira

Virtuosa Ferreira

João Ferreira

Angélica Ferreira

Ezequiel Ferreira

Maria Ferreira

Anália Ferreira

O primeiro da lista – Antonio – era meio irmão dos demais.

Dona Maria, antes de contrair matrimônio com José, morava nas proximidades da vila São Francisco e namorava um rapaz da família Nogueira, do qual engravidou. Mas o mesmo, metido a valentão e filho de gente rica, não quis casar-se, deixando a jovem em desolação.

Um certo rapaz, das bandas de Triunfo, Pernambuco, trabalhava como tropeiro e tinha a vila como um dos pontos de parada pra descanso e recompor as forças da tropa de burros no seu roteiro quando se dirigia em suas andanças para o Ceará, Alagoas e Bahia, e há muito tempo  paquerava a mesma moça, mas nunca quis se chegar, pelo fato de vê-la comprometida.

Porém, quando soube do acontecido, procurou-a e propôs casamento, assumindo a paternidade da gravidez.

Recebeu de presente do sogro uma faixa de terra – o Sítio Passagem das Pedras – e tiveram o restante dos filhos e filhas.

Agora caros leitores

Prestem-me bem atenção

Para entender o relato

Desta minha narração

Concentrem bem a memória

Que vou contar a história

Do famoso Lampião.

Nascido em Serra Talhada

Numa fazenda rural

Aprendeu desde menino

O trabalho artesanal

Com perfeição de ouro

Moldando as peças de couro

Em arreios de animal.

(Gilvan Santos)

O terceiro filho – Virgolino – de acordo com sua certidão de nascimento, que se encontra no cartório de registro civil de Tauapiranga (São João do Barro Vermelho, distrito rural de Serra Talhada), no livro nº2, folha 8, nasceu no dia 07 de julho de 1897. E, segundo seu batistério, que se encontra na Diocese de Floresta, no livro 13, página 145, nº 463, consta que ele nasceu em 04 de junho de 1898.

Mais duas filhas tiveram o casal:

Maria do Socorro e

Maria da Glória.

Ambas tiveram morte prematura.

Era costume, naquele tempo, quando as mulheres  estavam nos dias de darem a luz, ficarem nas casas dos pais.

Por isso, todos os rebentos nasceram na casa da avó materna, Dona Jacosa, que morava a umas trezentas braças de distância.

Somente com alguns dias, após o resguardo, que durava em torno de trinta dias, era que voltava pra casa,

Virgolino, ao nascer, a avó, que a estas alturas tornara-se viúva, agradou-se tanto do neto, que ficou com ele para lhe fazer companhia. Portanto, nasceu e se criou na casa da avó.

Segundo os moradores antigos daquelas bandas, a parteira que segurou Virgolino ao nascer e, ao que tudo indica, de todos os rebentos da casa, foi uma senhora chamada Antonia Tonico, moradora da fazenda Situação.

Em 1905 fez a primeira comunhão na vila São Francisco e em 1912 foi crismado em Floresta.

Como naquela época não havia escolas na região e Virgolino era o mais interessado dos irmãos pra aprender ler e escrever, estudou alguns meses com os professores Domingos Soriano Lopes e Justino Neneu. O primeiro era  parente da família pelo lado materno.

A família vivia da agricultura, do criatório de bode e da almocrevia.

Isto mesmo, com dezesseis anos de idade possuía uma frota de burros e partiu para a almocrevia. Os burros são animais melhores para essa função porque preferem água limpa e comem pouca ração. Vantagem muito boa para quem vive nessa profissão com o pé na estrada.

Saía com a burrama do Sítio Passagem das Pedras para Rio Branco onde comprava, vindos do Recife ou do sul do estado, caixas de gás, caixas de bebidas Gato Preto, Old Tom, alcobaça, açúcar refinado, arroz branco, roupas e tecidos, bolachas marca “sertaneja” de Pesqueira – PE. e outras novidades em bugigangas. Tinha as pessoas certas para entregar esses produtos. No caso de Vila Bella um deles era Cornélio Soares quem recebia para comercializar. Entregava também para outras cidades como Belmonte, Ouricuri, Triunfo, Cabrobó, Petrolina e até outros estados como Alagoas, Paraíba e Ceará. Foi nessas viagens que começou a conhecer palmo a palmo, ponto a ponto do Nordeste, que lhe viria ser útil na futura vida do cangaço.

Ao mesmo tempo, nos dias de feira das cidades, ele  vendia produtos fabricados por ele mesmo. Em Vila Bella era muito conhecido quando vinha com seus artefatos de couros confeccionados por suas próprias mãos, com perfeito acabamento e detalhes artísticos: alforge, chibata, colete, gibão, luvas, arreios, cartucheiras, selas, etc. Instalava sua banca ou forrava o chão com esteira ao lado da Igreja do Rosário, onde funcionava a feira livre nos tempos idos.

Também foi grande vaqueiro

Ágil e inteligente

Pegava boi na caatinga

Bravo sem nunca vê gente

Logo que o boi se espantava

Que o tropé começava

Ele partia na frente.

Trabalhou como almocreve

Viajando noite e dia

Com seu pai e seus irmãos

Levando mercadoria

Andavam de feira em feira

Por isso é que os Ferreira

Todo sertão conhecia.

(Gilvan Santos)

Virgolino tocava sanfona nas festas da redondeza, escrevia poesias e no repente desafiava os melhores repentistas da  ribeira, confeccionava artefatos em couro e madeira, corria vaquejada e pega de boi no mato.

Quando se tratava de trabalhar, era um verdadeiro furacão em tudo que fazia: na roça, na compra e venda de mercadorias que transportava em lombo de burro.

Os títulos eleitorais de Virgolino, Antônio e Livino foram tirados no ano de 1915. Apesar de não terem idade, Metódio Godoy foi quem articulou tudo para garantir esses votos. Votaram esse ano no partido borbista, que tinha a frente o oposicionista candidato a governo do estado Manoel Borba, que Mário Lira e os Godoy tinham a predileção. Os Carvalhos estavam de cima e apoiavam o candidato a reeleição para governador Dantas Barreto, contando com todo apoio dos Nogueiras e Saturnino.

Depois, no ano seguinte, 1916, sufragaram os Ferreiras o voto ao próprio Mário Lira – Mário Alves Pereira Lira, filho natural do Recife, contraindo matrimônio com uma moça da família Carvalho, veio residir em Vila Bella. Tornou-se um político de forte influência e foi eleito prefeito para a gestão 1916/20.

Ao que tudo indica, quando os Ferreira moravam em Poço Negro, cidade de Floresta – PE., foram correligionários de Idelfonso Ferraz.

Os Ferreiras tinham uma excelente relação de amizade com Cornélio Soares. Inclusive, um parente de José Ferreira, chamado Cândido Ferreira, costumava se hospedar na casa desse chefe político. Quando Cândido começou a ser ameaçado pelos inimigos de Lampião, que teve de vir embora de Nazaré, foi este acolhido na fazenda Caxixola, localizada no outro lado do Rio Pajeu, de propriedade do coronel Cornélio Soares. Lá morou durante toda sua vida, na sua proteção.

Os Ferreira eram pobres

Para aquela região

Suas terras eram poucas

E de pouca criação

Mas como eram tropeiros

Ganhavam algum dinheiro

Nas viagens do sertão.

(Gilvan Santos)

 

Os Ferreiras comiam e vestiam, se divertiam e se solidarizavam com os amigos com o produto do suor dos seus rostos.

Uma típica família sertaneja…

EM TEMPO: No período de 24 a 28 de julho, será apresentado ao ar livre o espetáculo teatral O MASSACRE DE ANGICO – A MORTE DE LAMPIÃO, na ESTAÇÃO DO FORRÓ, envolvendo mais de setenta atores e atrizes, com texto de Anildomá Willans de Souza e direção de José Pimentel. Entrada FRANCA.