Do Diario de Pernambuco

Foto: NORBERTO DUARTE / AFP

Uma nova mobilização foi organizada nesta segunda-feira (8) no Paraguai, sacudido desde sexta-feira por protestos exigindo a renúncia do presidente Mario Abdo, a quem os manifestantes acusam de mau desempenho na crise sanitária causada pela pandemia de Covid-19.

Embora a presidente tente conter os protestos com a nomeação de novos ministros e a promessa de “corrigir” seus erros, os manifestantes irão às ruas novamente em coincidência com a tradicional marcha do Dia da Mulher.

A manifestação feminista reuniu em Assunção cerca de mil pessoas na Praça da Democracia. Com o slogan “Vivas, diversificadas e com direitos”, as mulheres também aderiram às reivindicações da oposição pela renúncia do presidente “por sua má gestão na pandemia”.

Depois de seu ato, algumas se juntaram aos milhares de manifestantes antigovernamentais que se reuniram na Praça do Congresso na noite desta segunda-feira com refrões como “Fora Marito”, em referência ao apelido do presidente Abdo, e “Fora ladrões”.

“O presidente tem que renunciar, a corrupção é muito grande”, disse a bióloga Carola Recalde, que compareceu à praça portando a bandeira do país.

“Ninguém mais confia em Marito, por causa da corrupção. A mudança de ministros não é suficiente, ele tem que renunciar”, acrescentou a dona de casa Lidia Benítez, que contou ter sofrido durante 40 dias com a convalescença de sua mãe, que teve covid. Ela assinalou que o prejuízo econômico para sua família foi milionário.

A bancada do Partido Liberal – principal oposição ao governo – na Câmara dos Deputados anunciou nesta segunda-feira a decisão de promover o impeachment e a nomeação de três parlamentares para preparar a acusação contra o presidente e seu vice, Hugo Velázquez.

“Neste momento temos que fazer o que o povo pede e há dias é isso que clama”, afirmou a deputada Celeste Amarilla, uma das indicadas para preparar a denúncia. A ideia é apresentar [o processo de impeachment] na próxima semana”, confirmou o deputado Celso Kennedy.

No entanto, isso não será possível sem o apoio dos simpatizantes no Parlamento do ex-presidente Horacio Cartes, dissidente de Abdo no partido Colorado (partido no poder).

Vacinas, a prioridade

A chegada de apenas 4.000 doses de vacinas Sputnik V destinadas ao pessoal de terapia intensiva dos hospitais gerou o descontentamento que apontou para a gestão oficial.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, ajudou Abdo enviando imediatamente 20.000 doses de vacinas chinesa Coronavac para o pessoal de saúde no último sábado.

Por sua vez, o presidente do Senado do Paraguai, Oscar Salomón, anunciou nesta segunda-feira que em poucos dias chegarão mais 36 mil doses da vacina contra a Covid-19.

O Paraguai, com pouco mais de 7 milhões de habitantes, espera, sem data precisa, a importação de 4 milhões de vacinas pelo sistema Covax, estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), além de 1 milhão de doses da Sputnik V. A pandemia já infectou mais de 168 mil pessoas no país, com 3.318 mortos.

“Queremos obter a maior quantidade de vacinas no menor tempo possível”, afirmou o novo ministro da Saúde, Julio Borba, em entrevista coletiva nesta segunda-feira.

Borba substituiu no cargo Julio Mazzoleni, cuja renúncia foi exigida pela oposição na última quinta-feira.

O descontentamento popular foi gerado há 10 dias, com protestos em frente aos hospitais de familiares de pacientes com Covid-19, unidos por médicos e enfermeiras, devido à escassez de medicamentos no setor público e preços excessivos no setor privado.