Agora retiro do meu baú um instrumento sonoro que marcou parte da minha infância: A sirene. Escutei o seu apito quando corria pelas calçadas da rua Agostinho Nunes Magalhães, a antiga rua do Cine Plaza. Mas o som não vinha do cinema, mas da torrefação de café Pajeú, do saudoso Manoel Totó. Quem não nunca ouviu uma história do seu Mané perdeu uma boa prosa.
Sujeito alegre e de voz fina e mansa, cujo fábrica funcionava na rua Henrique de Melo e cujo aroma do café se espalhava pelo quarteirão. “Ióooooooooo” este era mais ou menos o som da sirene, as cinco da tarde, marcando o final do expediente. Pra mim, era o sinal que precisava sair correndo para comprar pão na padaria de Jamildo, que ficava nas proximidades da loja de seu João Arlindo. Comprava pão na base da caderneta e meu pai fazia o pagamento no final do mês.
Entretanto, nada foi mas fascinante do que a sirene do Cine Plaza. Eram três apitos até começar a sessão. Na segunda chamada eu já estava pronto e cheiroso a base da Seiva de Alfazemas, após um prolongado banho com o sabonete Phebo ou Alma de Flores. Naquela época, a língua portuguesa não tinha a submissão que tem hoje diante a língua norte-americana. Ao chegar no escurinho do cinema minha imaginação criava asas. Adorava as mudanças das cores na tela antes do início do filme. A poltrona era de madeira mas não tinha problema. A magia compensava tudo.
Eu tinha dois gêneros prediletos: Batalhas de capa espada e faroeste. Como esquecer de Macistes, Sansão, Django, Sartana, Pecos ou Ringo? Ruim mesmo era quando a fita era quebrada e a vaia comia no centro. Dividi com vocês boas lembranças do meu baú. O canal está aberto para que outros contem outras histórias. Bom domingo para todos!
9 comentários em MEMÓRIA: O fascínio das sirenes e as boas lembranças do escurinho dos cinemas de ST