MEMÓRIA: Os produtos, as mil e uma histórias da bodega de Zé Grande em STPor Adelmo Santos, poeta e escritor de Serra Talhada

A bodega de Zé Grande  era ponto de parada, crianças se divertiam brincando na calçada, e lá dentro os adultos contavam prosas e lorotas, encostados no balcão tomando uma meióta. Gera de Mané Lourenço cachaceiro bem querido deixava todos empulhados distribuindo apelidos.

A pratileira mostrava todas cachaças que tinha, uns bebiam Serra Grande outros Pitu e Sarinha. E entre prosas e lorotas a freguesia comprava: quebra-queixo, pirulito, fechoecler, bob, birilo, rosario de catolé, fumo de corda, chiclete, anil de pedra, cachete, confeito, pé de moleque, garrafinha com pão doce, diadema pra cabelo, mistral e água de cheiro, cigarro capri, gaivota, rapadura, bolachão, cocada e pão aguado, com a caderneta na mão para anotar o fiado.

A máquina de calcular eu lembro bem como era, para fazer uma conta puxava a manivela. A balança tinha dois pratos era assim de primeiro, num prato a mercadoria, no outro botava o peso. O óleo era de salada, Seu Zé vendia de mercado, Seu Dudé comprava ovos para comer estralados. Zé Grande usava um rosário, quando uma freguesa entrava ele dava uma espiada, Gera de Mané Lourenço soltava uma piada: “Seu Zé parece um biato, mas de santo não tem nada.”

E todo mundo gostava de ficar perto de Gera, que tomava uma cachaça com o dinheiro na meia. Seu copo era engana bêbado, tinha o fundo até o meio, podia botar cachaça que ele não ficava cheio. Dia de segunda-feira o movimento aumentava, quando os matutos passavam com porco, galinha e bode para venderem na feira comprando pão e sorrindo com as piadas de Gera. Zé Grande ficava contente, com um rosário no pescoço tratava todos iguais crianças, velho ou moço. A bodega de Zé Grande não era igual as outras, além das mercadorias a freguesia encontrava:  ESTÓRIA, HUMOR E POESIA.