Estávamos em 1975 e mesmo em plena ditadura militar éramos felizes e sabíamos. O presidente era o general Emílio Garrastazu Médici, um dos mais truculentos generais que forjou o slogan “Brasil: ame-o ou deixe-o. Pra nós, meninos buchudos; não chegavam as notícias das torturas e dos assassinatos nas prisões deste país. Mais isto é uma outra história.
Éramos a turma da rua Bernadino Coelho, onde passei parte da minha infância no maior estilo ‘moleque de rua’. Aliás, acho que aqueles que não viveram esta experiência, de ganhar às ruas; deixou de aprender muita coisa. Bola de gude, peladas de rua, polícia e ladrão, guerra de tribos, roubo de frutas em terrenos alheios, bater na porta dos outros e sair em disparada, garrafões e rouba bandeiras, ufa… quantas saudades!
Dentro dessa linha de pensamento tenho apenas um trauma: a brincadeira do garrafão. Aquela que termina alguém levando uma chapuletada nas costas. Pois bem. O caso eu conto como o caso foi. O cenário era a rua Bernadino Coelho, onde o calçamento estava sendo construido. Eu tinha medo de brincar do tal de garrafão porque sempre levava a pior. Porém, tinha mais receio da tiração de onda dos amigos; “Correu com medo passarinho cagou no dedo, pediu um pano pra limpar o dedo”. Esta era uma modinha que era entoada para quem fugisse da brincadeira.
Neste dia resolvi ‘peitar’ para não escutar a ladainha do passarinho. Com sempre, pra variar, me lasquei no garrafão e levei uma chapuletada que fiquei sem voz. Só ouvi o grito: “Êita, Vaninho ficou estatalado”. Perdi a voz e fiquei aéreo por algum tempo. Me levantei devagar, e ao ver o desespero dos colegas disparei. ‘Eu só tava me fazendo, otários”. Foi dizendo isso e indo pra casa chorar e tomar banho. Foi minha última brincadeira de garrafão e me acostumei com a modinha; “Correu com medo passarinho cagou no dedo, pediu um pano pra limpar o dedo”. Bons tempos da minha infância! Um bom domingo para todos.
13 comentários em MEMÓRIAS: Das brincadeiras de rua, rouba bandeira, garrafão… e uma tristeza