Bom dia, boa tarde e muio boa noite  aos diletos amigos faroleiros e faroleiras. Escrevo estas mal tecladas linhas às 5h30 deste domingo (21) num belo apartamento do hotel Atlante Plaza, em Recife, onde participo do 2º Encontro de Produtores de Mídia Digital- 2º Blogger-. Um luxo só. Vocês não imaginam o que o capitalismo pode fazer por cada um de nós, caso tenhamos um bom e blindado cartão de crédito. Mas isto é uma outra história.

Este luxo em que estou inserido, me fez reletir nos bons e velhos tempos das feiras livres de Serra Talhada e das relações comerciais que presenciei na minha infância, onde o cartão de crédito não valia nada e tudo funcionava na base da confiança, da amizade e da palavra empenhada. No máximo, a compra era anotada numa fichinha de papel. Até mesmo o desenho das nossas antigas lojas nos remete boas lembranças e recordações.

Como esquecer o alvoroço das segundas-feiras e os diálogos no Beco de Cazé? O ceguinho que pedia esmola na esquina, o violeiro que dedilhava a viola, às vezes que Bento, o ébrio, tomava umas e danava-se a cantar no beco. Asimpatia do seu João do Bode ao receber um cliente em sua loja. As graças do seu Modesto da Casa Penha. A doçura da dona Bé da loja de tecidos, que fazia questão de receber cada um com um abraço. E fecho falando do meu avô, Augusto Duarte, que costumava receber cada cliente com a seguinte declaração: “Diga, meu coração, o que vai levar hoje, meu coração”. Ele precisava vender e ganhar dinheiro mas fazia questão de mostrar o prazer de ter o cliente em seu estabelecimento.

Noves fora nada, ainda guardo na memória o desenho da loja do meu avô. Cinco balcões velhos, uma máquina registradora barulhenta e várias mercadorias espalhadas. Costumava trabalhar em dias de feira. Minha missão era ficar fora da loja cuidando dos colchões de palha de bananeira, e vender panelas de alumínios, pinicos, colheres de paus e por aí vai. Mas não me esqueço da força de alguns produtos que divido com vocês: O óleo de ovo, o sabonete Phebo, a brilhantina Zezé, os espelhinhos redondos de bolso, que no verso estampavam imagens de mulheres de maiôs. O talco Cinta-Azul e Cashimire Bouquet. Ufa. E por aí vai.

Algumas coisas sumiram sem muita explicação e  não consigo entender até hoje. Por exemplo, o cordão de São Francisco. Meu avô vendia mortalhas. Artigos que enfeitavam o defunto para a última viagem. O que fizeram com as mortalhas? Sim, é claro, ir para o outro mundo com um cordão de São Francisco era a certeza de meio caminho andado. Os tempos eram outros? Ou as pessoas eram mais verdadeiras?

Me despeço com saudades das seis horas. Fim de feira. Subia a praça Sérgio Magalhães cansado mas realizado. Tinha conhecido pessoas, registrado abraços e sorrisos do meu avô, piadas entre clientes e lojistas, etc. E tudo terminava com a Voz da Liberdade, a velha e boa difusora do Nizinho, que disparava o vozeirão de Luiz Gonzaga: “Quando bate as seis horas, de joelhos…”

Um abração e até a próxima.